La reforma del Water Front de Rio de Janeiro

Verena Andreatta *

El pasado 6 de septiembre fue inaugurada la reforma de la plaza Mauá en el entorno del viejo puerto de Rio de Janeiro. La plaza está situada en el extremo oriental de la zona objeto del proyecto de remodelación del frente portuario de la ciudad, denominado Porto Maravilha, y su reforma tiene un valor simbólico, además de estratégico, en el desarrollo de esa operación.

Con esa plaza se inició la operación de apertura de la avenida Rio Branco en la que el alcalde Pereira Pasos depositó casi todo el impulso de su modernización del Centro de la ciudad en el periodo republicano. En 1910 recibió una estatua dedicada al Barón de Mauá, el gran empresario del imperio muerto precisamente el año de advenimiento de la República (1889), y adoptó su nombre.

El pier construido en su frente fue terminal de pasajeros y cruceros durante mucho tiempo, y la plaza albergó una estación terminal de autobuses. Quizás por ese motivo, acabó por constituir un espacio caótico, atiborrado de vehículos de todo tipo. La construcción en 1962 de un viaducto por el frente urbano, separando el puerto de la ciudad, contribuyó a su deterioro.

La operación Porto Maravillha trajo como consecuencia el ansiado derribo de ese viaducto (o Perimetral do Porto) lo que parecía indispensable para incorporar el frente portuario a la ciudad. Hoy en día en el espacio recuperado por ese derribo se está construyendo un paseo ajardinado, dedicado al arquitecto y ex-alcalde de la ciudad Luiz Paulo Conde, de 3 km de extensión por el que trascurrirá un tranvía (VLT) que unirá el nuevo frente marítimo con el aeropuerto Santos Dumont, la bahía de Gloria y la Terminal de barcas de la Plaza XV; es decir con gran parte de los lugares más usados del Centro de la ciudad.

La primera parte de la reforma de la Plaza Mauá consistió en la construcción del nuevo Museo de Arte (MAR, que integró los edificios remodelados de la antigua estación de autobuses, de una sede de la policía y de un palacio de João VI. El bello proyecto de los arquitectos Bernades y Jacobsen fue inaugurado el 1 de marzo del 2013 y se muestra en la fotografía. Se sitúa en frente del edificio A noite del arquitecto Gire, que construido en 1929, fue record de altura en América Latina (102 m) e inicio la larga serie de rascacielos que puebla hoy el Centro de la ciudad.

Museo de Arte de Rio de Janeiro (MAR), arquitectos Jacobsen y Bernandes
Museo de Arte de Rio de Janeiro (MAR), arquitectos Jacobsen y Bernandes

Como se apuntó al inicio, el 6 de Septiembre se inauguró, tras cuatro años de obras, la remodelación de la plaza, que ha urbanizado 25.000 m2, y que remata en un atrevido edificio de Santiago Calatrava, construido en el pier Mauá y que albergará el «Museo do Amanha». Cercano a él, se está remodelando un viejo almacén portuario para albergar un nuevo Acuario de la ciudad.

Nueva urbanización de la Plaza Mauá, con el Museo do Amnahá sobre el pier
Nueva urbanización de la Plaza Mauá, con el Museo do Amnahá sobre el pier

Son pues, todas ellas, buenas noticias, que auguran un cierto éxito de la tan controvertida operación Porto Maravilha. Controvertida por su modo de gestión, en el que se ha cedido gran parte de las decisiones al conjunto de empresas privadas concesionarias de la denominada Operação Urbana Consorciada, y porque el Plan Director de la operación no contiene ninguna definición volumétrica del conjunto a edificar, utilizándose como instrumento urbanístico tan solo una adjudicación de edificabilidad (excesiva, a juicio de los expertos) a cada lote de terreno. Los primeros edificios, en construcción, muestran ya los desastrosos efectos de esa política.

Para mejor comprender las semejanzas, y sobre todo las diferencias, con otras operaciones urbanas de recuperación de frentes portuarios, se recomienda la lectura del libro de mi autoría que cito, en el que se contienen datos técnicos y de gestión de seis operaciones de la misma índole, ya casi concluidas (Boston, Hong Kong; Ciudad del Cabo, Barcelona, Rotterdam y Buenos Aires). A los comentarios allá expresados me remito.

*Verena Andreatta el arquitecta urbanísta

Para mayor información : ANDEATTA, Verena «Porto Maravilha e o Rio de janeiro + seis casos de sucesso de revitalização portuária» Rio de Janeiro. Ed. Casa da palavra, 2010. (ISBN 978-85-7734-168-9)

FRASES

LA RECUPERACION DE LA PLAZA Y PIER MAUA DE RIO DE JANEIRO, ÉXITO DE LA OPERACIÓN PORTO MARAVILHA

LÁSTIMA QUE AL ALEJARSE DE LA PLAZA EL CAOS COMIENCE A SUSTITUIR AL ORDEN EN LA NUEVA FACHADA MARÍTIMA

Os médicos na transformação do espaço das cidades

Nirvana Lígia Albino Rafael de Sá*

nirvanadesa@gmail.com

O final do século XIX e início do século XX foi um período marcado pelo discurso da necessidade de higienizar as cidades. A partir disso foi definida uma série de determinações para a construção de equipamentos urbanos que favorecessem a salubridade. Os hábitos higiênicos passam a ser divulgados enquanto norma para uma população sem acesso ao conhecimento médico e científico e, com isto, surge uma nova forma de pensar e gerir as cidades, fundada a partir desse princípio. Este novo olhar que se lança sobre os espaços é parte do Movimento Higienista, que, aliado ao conhecimento médico da época, buscava adequar as cidades a fim de evitar a ocorrência de epidemias.

Estas epidemias tiveram um acréscimo considerável em função do adensamento populacional, consequência da Revolução Industrial ocorrida em alguns países e da então ausência de conhecimento sobre o surgimento, contágio e transmissão das doenças, bem como dos métodos de combatê-las. A constatação das dificuldades higiênicas nos novos aglomerados resulta em várias intervenções no espaço urbano por parte dos médicos, como a determinação para a instalação de abastecimento de água e limpeza de fontes de água; construção de cemitérios; e de hospitais de isolamento para os enfermos; pintura de casas; instalação de janelas e portas que favorecessem a circulação do ar, entre outras. Estes profissionais médicos tomam para si, com respaldo do Estado, a responsabilidade por ordenar e manter saudáveis as cidades, bem como difundir as ideias higienistas para a população.

O saber médico administraria o espaço urbano com base na Teoria dos Miasmas, a qual defendia que as doenças eram transmitidas pelos ares de uma atmosfera contaminada. Isso ocasionaria o fortalecimento de um preconceito social que justificava as intervenções autoritárias e o afastamento da população considerada “perigosa” para os lugares habitados pela “boa gente”. Por não possuírem ainda, os meios técnicos suficientes à descoberta dos micróbios, das bactérias e dos vírus, como os microscópios, por exemplo, as autoridades médicas não apenas acreditavam, como também difundiam a ideia de que as doenças eram transmitidas através de um ambiente onde o ar estaria contaminado pelos odores da sujeira das ruas e dos corpos, tanto dos vivos como dos mortos.

Os conhecimentos técnicos da engenharia e da medicina estavam, portanto, muito relacionados ao planejamento urbano entre os finais do século XIX e início do século XX. A higiene nas cidades passa a ser entendida como uma filosofia social que propõe combinar as necessidades fisiológicas e culturais com o meio ambiente, a fim de controlar as enfermidades coletivas através do ar puro, da água potável, de uma habitação apropriada, do verde e do sol.

Com isso, os médicos exercem um controle social, principalmente sob a classe de menor poder aquisitivo como os operários, mendigos, prostitutas, doentes e loucos. Toda esta parcela da população era entendida enquanto ‘classe perigosa’, ou seja, eram perigosos por provocar espanto aos olhos da elite da cidade, por apresentar sua pobreza nas ruas e por serem considerados meio de contágio de doenças.

Intervenção na cidade: Arrasamento do Morro do Castelo no Rio de Janeiro em 1922. Esta intervenção se deu pela crença de que seria necessária uma maior circulação do ar para evitar a ocorrência de epidemias. Imagem disponível em: https://arquitetandoblog.wordpress.com/2007/06/23/reformas-urbanas-rio-de-janeiro-seculo-xx/
Intervenção na cidade: Arrasamento do Morro do Castelo no Rio de Janeiro em 1922. Esta intervenção se deu pela crença de que seria necessária uma maior circulação do ar para evitar a ocorrência de epidemias. Imagem disponível em: https://arquitetandoblog.wordpress.com/2007/06/23/reformas-urbanas-rio-de-janeiro-seculo-xx/

A divulgação da higiene enquanto único meio eficaz para a diminuição da ocorrência de epidemias nas cidades gerou um controle sobre os espaços e sobre os corpos. Esse alcance se fazia a partir da vigilância, da punição, e até mesmo do policiamento, a fim de que uma prática higiênica fosse posta nas cidades, não só nos espaços físicos, como ainda nos hábitos da população.

A análise temporal nos leva a considerar o Movimento Higienista, juntamente com a ideia de progresso a Modernidade como responsáveis ou justificativas para alterações físicas nas cidades, alterações na forma de habitar e mesmo de pertencer à este espaço.

Para maior infor­ma­ção:

SÁ, Nirvana L. A. R. de. O Movimento Higienista e alterações do espaço urbano na Cidade da Parahyba (1854-1912). Revista Mercator. Vol. 11. N. 25. Maio/Agosto de 2012.

Disponível em http://www.mercator.ufc.br/index.php/mercator/article/view/685/420

*Nirvana é Doutoranda do IPPUR da Universidade Federal do Rio de Janeiro. Atualmente em intercâmbio com Bolsa Capes (Brasil) na Universidade de Barcelona.

TURISMO EN ÁREAS DE CULTIVO DE MANZANA EN EL SUR DE BRASIL

por Fernando Goulart Rocha* y Antoni F. Tulla**

A pesar de ser conocido como un país tropical, Brasil posee cerca de un 8 por ciento de su territorio en la Región de Clima Templado, al sur del Trópico de Capricornio. Esa Región del país, formada por los Estados de Paraná, de Santa Catarina y de Rio Grande do Sul, es la región brasileña de menor extensión territorial, pero es la segunda más importante económicamente. En ella se vienen estableciendo actividades relacionadas con el turismo de experiencia (cultural agrario), como o “colhe-pague” de la manzana, con el objetivo de complementar la renta de los productores rurales y de sus familias. La actividad de “colhe-pague” es conocida por el término pick-your-own en inglés o cueillette à la ferme en francés.

El turismo de experiencia ha sido una apuesta de los pequeños productores rurales a fin de complementar la renta con la de sus familias.

La Región Sur de Brasil, siendo colonizada principalmente por europeos venidos de varias partes de Europa, posee un próspero sector industrial y es una de las despensas agrícolas del país, destacándose en la producción de granos y en la fruticultura de clima templado. Las principales variedades de frutas cultivadas en la región son: la manzana, la uva, la pera, el durazno, el membrillo y la ciruela. Esas variedades de frutas son exóticas y originarias de varias partes del mundo y fueron introducidas en las tierras altas, por encima de los 1.000 metros de altitud, en donde los inviernos son intensos con registro de temperaturas negativas y nevadas, incluso en algunas ciudades.

Es bien sabido que las primeras manzaneras en el Sur de Brasil eran cultivadas en jardines, como plantas ornamentales. Apenas en 1926 se inició, en el interior de São Paulo, la producción nacional de manzana para fines comerciales. En la Región Sur, la producción en escala comenzó en la década de 1960 con las variedades Fuji y Gala, variedades importadas y diferentes a las cultivadas en el interior paulista. Esas dos variedades incluyen, hoy, más del 90 por ciento de la producción brasileña de manzana.

En términos de distribución espacial, merecen ser destacadas tres regiones productoras: Fraiburgo y São Joaquim, en Santa Catarina; y Vacaria, en Rio Grande do Sul. Esas regiones son las que poseen condiciones climáticas adecuadas para el manejo de la manzana y concentran más del 80 por ciento de la producción nacional. Vale la pena observar que debido a las exigencias de un cierto tiempo fresco, los manzanos son cultivados en apenas 71 de los 1.188 municipios de la Región Sur, es decir, en cerca de 6 por ciento de ellos.

Basada en el uso de la mano de obra familiar, la producción del sur de Brasil de manzanas está fundamentada en el trabajo realizado en pequeñas propiedades rurales. Entre los productores, algunos mantienen contratos de comercialización directa con empresas procesadoras de la fruta. Otros, sin embargo, están al margen del proceso de integración y dependen de la venta directa o de intermediarios para el comercio. A su vez, es pequeño el número de productores que consiguen agregar valor a la manzana a partir del procesamiento previo de la fruta en la misma propiedad.

En ese sentido, el turismo de experiencia es una forma de agregar otro tipo de valor a las actividades hasta entonces articuladas únicamente en función de la producción de alimentos Dicho turismo de experiencia es aquel que supera el carácter contemplativo del paisaje y propone alguna actividad a ser realizada por el turista en el destino. Entre las actividades de ese tipo de turismo en las áreas de cultivo de la manzana están la recepción de grupos para conocer los vergeles, la producción de dulces y el “colhe-pague”, actividad en que los turistas cogen frutas y pagan por lo que recogen.

“Colhe-pague” de la manzana. Fuente: Fernando Goulart Rocha. Fecha: Mayo de 2013.
Colhe-pague” de la manzana. Fuente: Fernando Goulart Rocha. Fecha: Mayo de 2013.

La fruticultura de pequeña producción familiar que desea ingresar en las actividades de turismo no puede evadir la capacitación técnica.

En Santa Catarina, ya está en curso el aprovechamiento de la manzana, con la formación de una marca de itinerarios de invierno, lo cual está siendo seguramente prometedor. En Rio Grande do Sul, el turismo de montaña está muy organizado, a pesar de que la manzana tenga actualmente poco interés como producto turístico regional. En Paraná, la situación del turismo con un lugar destacado para la producción de manzana también es débil. Se espera, no obstante, que el turismo pueda contribuir también en esos Estados para la valorización de la cultura de la manzana y sirva como mecanismo de generación de empleo y renta por medio de la recepción de personas interesadas en experimentar el lugar, apreciar el producto y la comunidad involucrada en su producción.

Entretanto, es oportuno resaltar que la fruticultura de pequeña producción familiar que desea ingresar en las actividades de turismo no puede evadir la capacitación técnica a fin de conocer los medios para añadir valor al bien que se produce. En primer lugar, porque el cultivo de frutas es costoso y extremadamente exigente desde el punto de vista de la cantidad de horas de trabajo agregado a la producción. Además, porque la fruticultura depende de variables geográficas muy específicas, lo que significa que producir frutas es una actividad con un elevado grado de especialización en áreas de clima templado en Brasil.

Por último, a pesar de que las actividades de visita y experiencia en las pequeñas propiedades tienen la función de diversificar la renta de los productores, esto no significa que se considere aparte de las demás estrategias de promoción del turismo a escala local. En ese sentido, la articulación de la cadena productiva de la fruta es fundamental en la formación de una identidad para la fruticultura regional y deberá prever estrategias más amplias con el objetivo de fortalecer los programas de visita a las propiedades.

Para mayor información:

ROCHA, F. G.; Tulla, A. F. Turismo agroalimentario en areas de cultivo de manzana en la Región Sur de Brasil. Cuadernos de Turismo de Murcia, 2015, n. 35, p. 211-229.

Fernando G. Rocha es Doctor en Geografía y profesor del Instituto Federal de Santa Catarina, Brasil.

Antoni F. Tulla es Doctor en Geografía y profesor del Departamento de Geografía de la Universitat Autònoma de Barcelona.

A disputa pela habitação em Brasília: é tempo de Resistência!

Ananda de Melo Martinsi

A questão da habitação é uma das principais urgências cotidianas existente em meio a disputa na composição da cidade contemporânea no Brasil e em diversos outros países. Trata-se de uma demanda histórica. Em Brasília há registros que indicam que essa problemática se configura já no período de construção da cidade. O plano de construção da capital federal previa a criação das “cidades satélites” a partir do momento em que a área planejada, denominada de Plano Piloto, atingisse o patamar de 500 mil habitantes.

No entanto, em 1960 já haviam sido criadas três cidades satélites: Taguatinga (1958), Sobradinho e Gama (1960); e em meados da década de 1960 já havia outras duas cidades satélites estabelecidas oficialmente: Paranoá (1964) e Guará (1966).

As cidades satélites passaram a ser chamadas de Região Administrativa (RA), e atualmente são 31 a compor o município de Brasília (DF), incluindo o Plano Piloto (RA I) que corresponde à cidade planejada por Lúcio Costa sob os preceitos da Carta de Atenas, onde se reconhece mundialmente os edifícios projetados por Oscar Niemeyer. Para além do plano urbanístico se observa a cidade símbolo de um discurso de igualdade social a reproduzir, desde o primeiro momento, a mesma dinâmica das demais cidades brasileiras. Sua estrutura desigual, hierárquica e fragmentada se consolida com a implementação da política neoliberal e impacta a realização da vida e da organização coletiva. Ao mesmo tempo é incapaz de impedir completamente que a reivindicação da cidade sob a perspectiva da justiça social surja a partir de diferentes organizações coletivas.

Em torno da demanda da habitação se constituíram em Brasília inicialmente organizações coletivas atreladas às associações de moradores. Na atualidade, a atuação dos movimentos sociais de luta pela moradia apresenta maior combatividade. Explicitam a tensão e os conflitos entre o direito de morar e a atuação dos agentes públicos do Estado, que muitas vezes ao invés de garantir o direito de todos prioriza viabilizar os interesses de alguns. Ou seja, o direito assegurado pela Constituição Federal Brasileira de 1988 passa a ser submetido aos interesses de agentes privados que assumem a habitação enquanto mercadoria.

Essa realidade tem sido confrontada por diferentes movimentos sociais. Em Brasília assume protagonismo o Movimento dos Trabalhadores Sem Teto (MTST), que tem se destacado nacionalmente por suas ações em São Paulo, e iniciou em 2010 a organização da coordenação estadual na capital federal. A principal estratégia de pressão do MTST/DF são as ocupações urbanas que denunciam o favorecimento por parte do Estado à especulação imobiliária. São espaços que possibilitam intensificar a mobilização para construção da resistência urbana enquanto prática coletiva, de modo a massificar a ideia de que o morar, enquanto direito social básico e universal, não pode ser reduzido à moradia, enquanto privilégio para aqueles que podem pagar.

Fonte: Brasil de Fato (2012); O Miraculoso (2013).
Fonte: Brasil de Fato (2012); O Miraculoso (2013).

Entre as principais ocupações urbanas realizadas em Brasília tiveram grande repercussão em 2012 a ocupação Novo Pinheirinho (Ceilândia), e em 2013 a ocupação com mesmo nome fixada em Taguatinga, que resultou no auxílio emergencial e a criação do auxílio aluguel até que as casas do programa habitacional sejam entregues.

Ocupações Novo Pinheirinho – Ceilândia e Taguatinga, respectivamente

Ocupação Maria da Penha – Planaltina, Brasília/DF

Foto: Ananda Martins, Fev./2015.
Ocupação Maria da Penha – Planaltina, Brasília/DF
Foto: Ananda Martins, Fev./2015.

Em 2014, além de vários atos em conjunto com o Comitê contra as violações da Copa do Mundo, realizaram também ocupações no Ministério da Fazenda do DF. Em fevereiro de 2015 o MTST/DF realizou uma ação inédita com a ocupação simultânea de seis áreas do DF iniciando uma intensa mesa de negociação com o governo recém-eleito, com indicativo de novas conquistas.

Tem-se uma organização coletiva de luta pela casa? Sim! Porém, a casa representa mais que o teto para a população pobre que continua sendo empurrada para áreas cada vez mais periféricas, em condições de precarização cada vez maior; realidade que, ao mesmo tempo, cria, a sua revelia, as condições de organização coletiva que se dá inicialmente sob a identificação da realidade vivida.

Os Movimentos Sociais Urbanos têm desempenhado um papel importante ao negar a redução do espaço urbano a uma mercadoria. Assim, de alguma forma, desvelam a possibilidade de ruptura com os preceitos econômicos capitalistas postos por meio da ação política. Para essa apropriação, a Reforma Urbana se torna central para àqueles que excluídos no processo de fragmentação sócio-espacial se transformam nos protagonistas da luta pelos direitos sociais de interesse coletivo, e contra os interesses individuais de instituições, empresas e grandes corporações. Indicam o residual que escapa à política dos planos e planejamentos que ao fim criam perspectivas dicotômicas para delimitar a lógica segregadora a que servem na prática, realidade que faz com que a disputa se intensifique e torne ainda mais explícita a opção de atuação dos MTST/DF: na intensificação da luta por meio da ocupação cidade, é tempo de resistência!

Para mais informações:

DE MELO MARTINS, Ananda. «O direito à Cidade e o Estatuto da Cidade: a Produção Política da Sociedade e as Resistências Urbanas». Em: Anais do VI Congreso Iberoamericano de Estudios Territoriales y Ambientales – CIETA, (São Paulo 08-12 de setembro de 2014). Anais online. ISBN: 978-85-7506-232-6: [s.n.], 2014. P. 880-896. Disponível em http://6cieta.org/arquivos-anais/eixo3/Ananda%20de%20Melo%20Martins.pdf

i Ananda de Melo Martins é geógrafa, Doutoranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade de Brasília, bolsista do Programa de Doutorado Sanduíche no Exterior financiado pela CAPES..

ASSÉDIO NO TRABALHO: UMA REALIDADE PARA AS TRABALHADORAS LATINO-AMERICANAS

“Eu falei que não ia estuprar você porque você não merece!” Foram as palavras ditas por Jair Bolsonaro, do Partido Progressista (PP), no plenário da Câmara dos Deputados brasileiros em dezembro de 2014. O deputado se dirigia à sua colega de trabalho, Maria do Rosário do Partido dos Trabalhadores (PT). Esse exemplo, ainda que não possa ser considerado como assédio moral, serve de mote para refletir sobre um problema social que atinge os trabalhadores e trabalhadoras da América Latina.

Apesar de ainda não haver um regramento quanto ao assédio a Organização Internacional do Trabalho (OIT), por meio da convenção nº 111, trata da discriminação referente ao emprego ou profissão. A discriminação baseada nas relações de gênero seria a base para tornar as mulheres as principais vítimas do assédio.

Segundo o Panorama Laboral 2014 da OIT, Brasil, México e Argentina possuem cerca de 65% da população economicamente ativa urbana da América Latina e Caribe. Devido ao fato de serem os países com a maior concentração de trabalhadores(as) latino-americanos(as), apresentamos brevemente a situação de cada um em relação ao tema.

No Brasil, o Ministério do Trabalho e Emprego (MTE) define o assédio moral como “toda e qualquer conduta abusiva (gesto, palavra, escritos, comportamento, atitude etc.) que, intencional e frequentemente, fira a dignidade e a integridade física ou psíquica de uma pessoa, ameaçando seu emprego ou degradando o clima de trabalho”. Em 2001, com a Lei nº 10.224 do Código Penal, o assédio sexual passou a ser considerado crime. Em 2010 o MTE criou uma cartilha, com o intento de subsidiar os atores sociais na consolidação de relações de trabalho mais dignas para a classe trabalhadora.

Ilustração de Assédio Moral e Sexual pela Cartilha do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil  Fonte: Cartilha Assédio Moral e Sexual no Trabalho (MTE, 2010).
Ilustração de Assédio Moral e Sexual pela Cartilha do Ministério do Trabalho e Emprego do Brasil Fonte: Cartilha Assédio Moral e Sexual no Trabalho (MTE, 2010).

Segundo a cartilha, a maioria das vítimas de assédio no trabalho é mulher e negra. Trata-se de uma dupla discriminação. Também demonstraram que mulheres e homens reagem de maneira diferente quando vítimas de assédio, que reflete uma concepção patriarcal.

No México, em 2013, uma publicação da Gaceta Parlamentaria, argumentava sobre a necessidade da criação de um marco legal que puna os assediadores e proteja o direito das vítimas. A Lei Federal do Trabalho passou por uma reformulação em 2012 e estabeleceu que não poderia haver discriminações de gênero no trabalho. No 3º artigo há o destaque para o assédio sexual que, no Código Penal Federal, apenas será punível quando causar lesão. A empresa OCC Mundial divulgou que 51% dos profissionais mexicanos sofreu algum tipo de assédio no trabalho e destacou que destes, 70% consideraram que ambos os gêneros estão expostos a sofrer intimidação laboral. Indicando o quanto pode ser velada a tendência do assédio às trabalhadoras. A necessidade de haver provas do ocorrido dificulta, em muitos casos, que a vítima possa denunciar ou obter algum resultado quanto à punição do assediador.

Na Argentina, a Lei, nº 23.592 de 1988 procurou inibir atos discriminatórios. Segundo a Associação Cidadã pelos Direitos Humanos da Argentina, dos 24 distritos do país, somente três possuem algum tipo de regulação em relação ao assédio: a cidade de Buenos Aires e as províncias de Buenos Aires e Santa Fé. Destacando que a segunda possui a lei de assédio sexual somente para a administração pública e a última é a única que também inclui a regulação no âmbito privado; ambas foram sancionadas em 2001. Em março de 2012, havia um projeto de lei de prevenção e sanção da violência laboral e o assédio em escala nacional. Em 2014 os ministérios do trabalho, emprego e seguridade social e o da educação e a OIT, publicaram um material de apoio e informação sobre saúde e segurança no trabalho. Das 54 páginas da publicação, o tema assédio aparece em apenas uma página.

C

A legislação e ações governamentais a nível nacional referente ao assédio no local de trabalho são bastante diferenciadas entre esses países latino-americanos (Brasil, México e Argentina), principalmente quanto ao assédio sexual. omo se pode ver, a legislação e ações governamentais a nível nacional referente ao assédio no local de trabalho são bastante diferenciadas entre esses países latino-americanos (Brasil, México e Argentina), principalmente quanto ao assédio sexual. Indagamos que, se no parlamento de um dos principais países latino-americanos, um representante demonstra total desrespeito para com uma mulher colega de trabalho, o que se pode esperar naqueles espaços em que não há visibilidade de tais acontecimentos?A legislação pode refletir a importância dada a algumas das problemáticas da sociedade, mas não representa de imediato uma mudança social, principalmente àquelas questões que exigem mudanças profundas, como o pensamento patriarcal ainda presente e que atinge diretamente a mulher trabalhadora.

A Geografia do trabalho não deve negligenciar este tema, principalmente a partir de um recorte de gênero, pois o assédio moral e sexual ainda é uma realidade que recai principalmente sobre as mulheres, portanto, consideramos que as Geografias feministas possibilitam outro olhar às relações trabalhistas.

Para maiores informações:

Associação Cidadã pelos Direitos Humanos da Argentina. Legislación Argentina. <http://www.acdh.org.ar/documentos/legislacion.htm>

MINISTÉRIO DO TRABALHO E EMPREGO. Assédio moral e sexual no trabalho. Brasília: ASCOM, 2009. <http://portal.mte.gov.br/data/files/8A7C812D3CB9D387013CFE571F747A6E/CARTILHAASSEDIOMORALESEXUAL%20web.pdf>

FALCÃO, Márcio; GUERREIRO, Gabriela. Para rebater deputada, Bolsonaro diz que não a ‘estupraria’. Folha de São Paulo, 8 de maio de 2015. <http://www1.folha.uol.com.br/poder/2014/12/1559815-para-rebater-deputada-bolsonaro-diz-que-nao-a-estupraria.shtml>

GACETA PARLAMENTARIA, Número 3718-VII,
jueves 28 de febrero de 2013. <http://gaceta.diputados.gob.mx/Black/Gaceta/Anteriores/62/2013/feb/20130228-VII/Iniciativa-15.html>

ORGANIZAÇÃO INTERNACIONAL DO TRABALHO. Panorama Laboral 2014. <http://www.ilo.org/wcmsp5/groups/public/—americas/—ro-lima/documents/publication/wcms_325664.pdf>

  1. Andressa Cristiane Colvara Almeida, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG); pesquisadora do Núcleo de Análises Urbanas (NAU/FURG).
  2. Susana Maria Veleda da Silva, professora em Geografia do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG); pesquisadora do Núcleo de Análises Urbanas (NAU/FURG) e do Grupo de Investigación de Geografía y Género da Universitat Autónoma de Barcelona/UAB.

FEMINICÍDIO: UMA BUSCA PELO FIM DA IMPUNIDADE NO BRASIL

Mais de uma dezena de países latino-americanos já instituíram leis com o objetivo de investigar e punir o assassinato de mulheres em seus territórios. Reconhecido internacionalmente pela criação de uma das três leis mais avançadas do mundo sobre o tema (a Lei Maria da Penha), o Brasil ainda não conseguiu incluir no Código Penal a mais extrema das violências de gênero: o feminicídio. Segundo o Mapa da Violência (2012), estima-se que tenham ocorrido mais de 90 mil assassinatos de mulheres no país desde a década de 1980.

A categoria feminicídio remonta o ano de 1976, quando Diana Russell utilizou o termo em um depoimento frente ao primeiro Tribunal Internacional de crimes contra Mulheres, em Bruxelas. Posteriormente, em parceria com Jill Radford, Russell publicou o clássico Femicide: The politcs of Woman Killing, que se tornou a principal referencia para os estudos na área. As autoras queriam desmascarar o patriarcado, instituição que se sustenta no controle do corpo e na capacidade punitiva em relação às mulheres, e mostrar a dimensão política desses assassinatos (SEGATO, 2006). Assim, ao empregarmos a categoria femicídio ou feminicídio, como tem sido utilizado mais frequentemente, estamos acrescentando um caráter político a um termo neutro como o homicídio. Especialista no tema, Rita Segato, defende que, para a categoria feminicídio ter o mesmo status que a de genocídio, que corresponde a uma agressão genérica e letal a todas as pessoas que pertencem a um mesmo grupo racial, étnico, linguístico, religioso ou ideológico, é preciso dotá-la de tamanha impessoalidade que seja possível expressar juridicamente a intenção de um extermínio das mulheres simplesmente pelo fato de serem mulheres, como grupo, como categoria.

Foram os desaparecimentos e as mortes violentas de mulheres na Ciudad Juarez, México, que acendeu a discussão sobre a questão na América Latina. As práticas chegaram a ser descritas como parte de rituais. Pela omissão diante dos fatos, o governo mexicano foi condenado pela Corte Interamericana de Direitos Humanos a investigar todos os casos de feminicídios ocorridos na cidade desde 1993 e criar uma base de dados estaduais e nacionais com informações sobre o assassinato de mulheres.

Atualmente, na América Latina, países como Argentina, Bolívia, Chile, Colômbia, Costa Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Peru e México contam com formas legais de punir o feminicídio, uns por meio da reforma do código penal, outros estabelecendo agravantes para as mortes de mulheres por questões de gênero. O pioneiro foi a Costa Rica, em 2007. As geógrafas Diana Lan, Verônica Ibarra-García e Angélica Bernal, têm levantado o debate sobre violência contra as mulheres na Argentina e no México, por meio de contribuições da Geografia feminista.

No Brasil, um projeto de lei, que altera o código penal ao inserir o feminicídio como circunstância qualificadora do crime de homicídio, foi aprovado no Senado Federal em 2014. A proposta teve origem na Comissão Parlamentar Mista de Inquérito (CPMI) que investigou a violência contra a mulher em todo o território nacional. A Comissão justificou que a Lei Maria daPenha foi o ponto de partida na luta pela igualdade de gênero e pela universalização dos direitos humanos, mas que precisa ter continuidade através do combate ao feminicídio. A proposta, que aguarda apreciação do Congresso Nacional, trata os crimes com razões de gênero como hediondos, considerando-os expressão máxima das outras formas de violência que acomete as mulheres. De acordo com o projeto, esses crimes passam a prever pena de 12 a 30 anos de reclusão, podendo sofrer aumento de 1/3 quando ocorrer durante a gestação ou nos três meses posteriores ao parto; contra menor de 14 anos, maior de 60 anos ou pessoa com deficiência e, na presença de ascendente ou descendente da vítima.

  O feminicídio íntimo, cometido por homens com os quais a vítima tem ou teve relação íntima, familiar, de convivência ou afins, é o mais frequente no Brasil que, com uma taxa de 4,4 homicídios em 100 mil mulheres, ocupa a sétima posição entre os 84 países com dados homogêneos analisados pela Organização Mundial da Saúde no período de 2006 a 2010, como mostrou o Mapa da Violência (2012). O recente estudo realizado pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), Violência contra a mulher: feminicídios no Brasil, apontou que 16,9 mil mulheres foram assassinadas por parceiros ou ex-parceiros entre 2009 e 2011. Mais da metade delas (54%) eram jovens, com idade entre 20 e 39 anos. A pesquisa do Ipea revelou que houve apenas uma sutil diminuição na taxa de crimes registrados logo após a criação da Lei Maria da Penha, o que evidencia a fragilidade da mesma para os crimes de assassinato.

Sabemos que a tipificação do feminicídio é apenas mais um passo no enfrentamento a todas as violências praticadas contra as mulheres. Em muitos países da América Latina a existência da legislação não garante o fim da impunidade a esses crimes. Contudo, o descompasso de quase uma década entre a vanguarda na criação da legislação que tipifica os crimes de violência contra as mulheres e a morosidade no que diz respeito à inclusão do feminicídio no código penal mostra que, apesar dos avanços legais que tivemos nas últimas décadas, o assassinato de mulheres ainda é visto como um crime menor pelo Estado brasileiro.

Figura 1: Campanha da Secretaria de Políticas para as Mulheres, Brasil. Fonte: http://www.spm.gov.br/ A Geografia, a partir da abordagem feminista e do seu comprometimento com as transformações sociais, tem muito a contribuir para tornar cada vez mais visível essa relação extremamente desigual de gênero que, nos mais diferentes territórios, resulta na aniquilação do outro através da violência, perpassando todas as camadas sociais e ensejando políticas públicas transversais que envolvem não somente as áreas da saúde e segurança, como podemos vir a acreditar num primeiro momento, mas também educação, economia, direito e tantas outras.

Para maiores informações:

SEGATO, Rita. Qué es un feminicidio. Notas para un debate emergente. Brasília.

Departamento de Antropología, Universidade de Brasília, 2006.

WAISELFISZ, Julio Jacobo. Mapa da Violência 2012. Os novos padrões da violência homicida no Brasil. São Paulo, Instituto Sangari, 2011.

Secretaria de Políticas para as Mulheres – Lei Maria da Penha. Disponível em http://www.spm.gov.br/assuntos/violencia/lei-maria-da-penha

Marília Cardoso Lopes, mestranda do Programa de Pós-Graduação em Geografia da Universidade Federal do Rio Grande (FURG); pesquisadora do Núcleo de Análises Urbanas (NAU/FURG).

Susana Maria Veleda da Silva, professora em Geografia do Instituto de Ciências Humanas e da Informação (ICHI) da Universidade Federal do Rio Grande (FURG); pesquisadora do Núcleo de Análises Urbanas (NAU/FURG) e do Grupo de Investigación de Geografía y Género da Universitat Autónoma de Barcelona/UAB.

O caminhão ainda domina a logística do agronegócio do Centro-Oeste brasileiro

por Daniel Monteiro Huertas

Conhecida internacionalmente como a principal zona produtora do agronegócio brasileiro, a Região Centro-Oeste (composta pelos Estados de Goiás, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e pelo Distrito Federal), apesar dos investimentos em curso e planejados para o modal ferroviário, ainda registra na sua paisagem a onipresença do caminhão. E, mesmo distante dos principais centros consumidores e do sistema portuário, a logística, ainda comandada pelo transporte rodoviário, encontrou uma espécie de arranjo territorial para auferir vantagens em uma situação aparentemente desfavorável.

Como a área de produção estende-se por centenas de quilômetros em um emaranhado de estradas vicinais (geralmente não pavimentadas) que mais tarde encontrarão eixos-tronco, é viável tanto para o produtor quanto para o comprador que poucos pontos reúnam condições favoráveis para as decisões de cunho logístico, principalmente a concentração da oferta de serviços de transporte (empresas transportadoras e caminhoneiros autônomos) e a formação do frete com valores de referência aceitos por todos os agentes.

A configuração territorial dos nodais do agronegócio ocorre em cidades e eixos-tronco por onde quase toda a produção de uma imensa área de influência é organizada do ponto de visto logístico. É a partir destes arranjos que se dá grande parte do escoamento final da produção, ou seja, o transporte para unidades terminais. Levando-se em consideração que o transporte rodoviário cria uma topologia própria, no Centro-Oeste do Brasil situam-se três nodais “secundários monofuncionais” – Cuiabá-Rondonópolis, no Mato Grosso; Campo Grande-Dourados, no Mato Grosso do Sul e Jataí-Rio Verde-Itumbiara, em Goiás –, pois diretamente atrelados à logística do agronegócio.

O papel das tradings (as multinacionais Bunge, Cargill e Louis Dreifus e a brasileira Amaggi marcam forte presença no Centro-Oeste brasileiro) na logística do agronegócio é fundamental para se decifrar o uso do território em consonância com o transporte rodoviário de carga. Primeiramente é necessário destacar que o preço do frete é comprimido pelas tradings pela combinação de uma série de elementos que colaboram para rebaixar o valor do serviço do transporte, como a manutenção de uma ampla carteira de frotistas como uma espécie de reserva de mercado alimentada por comissões (um pagamento extra por tonelada transportada sobre o frete acertado) e a situação logística privilegiada que ocupam nos circuitos espaciais produtivos em que atuam.

Caminhões transitando pela BR-364, no trecho Rondonópolis-Alto Araguaia, Mato Grosso - Brasil
Caminhões transitando pela BR-364, no trecho Rondonópolis-Alto Araguaia, Mato Grosso – Brasil

Pode-se afirmar que as tradings possuem uma compreensão mais sistêmica de todo o circuito, criando estratégias organizacionais e territoriais que as favorecem, como a alocação ótima de unidades armazenadoras; cotação do frete por quilômetro rodado (e não por tonelagem, elemento de alto custo-benefício diante do aumento da capacidade dos caminhões); redução da sazonalidade da safra; contratos com empresas transportadoras por safra para escapar das oscilações de preço de frete; rápida capacidade de cotação de preço médio de frete num cenário composto por muitas oscilações diárias e uma infinidade de agentes e conhecimento da programação de acostagem dos navios.

Nos circuitos produtivos do agronegócio são as tradings, portanto, que reúnem as melhores condições para coordenar e controlar a interrelação entre espaços produtores de fluxos (ordens e decisões) e espaços produtores de massas (produção propriamente dita), numa lógica que tem a soja como principal expoente e pautada no imperativo das exportações e no interesse das grandes empresas e produtores.

Diante dos pesados investimentos que o governo brasileiro tem realizado no modal ferroviário, resta saber como será a reorganização estratégica das tradings em um novo cenário. O Mato Grosso, carro-chefe da expansão da fronteira agrícola e com o agronegócio praticamente consolidado em boa parte de seu imenso território, é o Estado que certamente mais será impactado pela intermodalidade, contribuindo para a tão desejada inversão da matriz de transportes do país.

As modificações em curso estão de acordo com as características e vantagens relativas a cada modal, trasferindo gradativamente o transporte de grandes massas de longo curso do caminhão para trens e barcaças. O problema é que os altos custos incidentes são suportados em grande parte pela União, para posterior licitação de concessões ao setor privado. Ou seja, pelo menos em um momento inicial, o Estado tem arcado com pesados investimentos intensivos em capital de longo prazo de maturação, em detrimento de investimentos sociais de outra natureza. Além disso, nunca é demais salientar que a opção ferroviária reforça o papel do Brasil como grande exportador mundial de commodities agropecuárias e minerais, mantendo uma posição desfavorável na divisão internacional do trabalho – situação que, acima de tudo, beneficia em primeiro lugar as grandes tradings multinacionais.

Para maiores informações

HUERTAS, Daniel Monteiro. Dinâmicas territoriais dos eixos nodais que comandam a logística rodoviária do agronegócio no Centro-Oeste brasileiro. Revista Ateliê Geográfico, Vol.8, nº2, ago./2014. Disponível em

<http://www.revistas.ufg.br/index.php/atelie/article/view/29642>

Daniel Monteiro Huertas é jornalista, geógrafo e professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Brasil.

Brasil – País dividido após eleições

Sonia Fleury

As eleições que reconduziram a presidente Dilma Rousseff do PT- Partido dos Trabalhadores à Presidência da República na disputa com o Senador Aécio Neves do PSDB – Partido Social Democrata Brasileiro, aparentemente não trouxeram novidade, já que a disputa entre os dois maiores partidos que surgiram com a democratização tem se repetido nesses últimos vinte anos, alternando governos do PSDB (Fernando Henrique) com os do PT (Lula e Dilma).

No entanto, algo de novo ocorreu nessa campanha cheia de imprevistos, depois da morte de um candidato em desastre aéreo e sua substituição pela ex-ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, que se apresentou como uma terceira via nessa polarização. Mas, foi derrotada no primeiro turno levando à disputa tradicional entre dois projetos que tem se apresentado para o país, terminando por reconduzir o PT à Presidência, depois de dois mandatos do Presidente Lula e um da própria presidente Dilma.

A vitória de Dilma se deu por pouco mais de três milhões de votos, mostrando o acirramento da disputa e a divisão do país em termos de classe e regiões, sendo os mais pobres em todo o país de as regiões mais pobres do país aqueles que maciçamente votaram pela reeleição do PT. Além disso, o tom violento da campanha nas redes sociais mostrou uma realidade que os brasileiros procuram desconhecer: um país dividido com eleitores cheios de preconceitos, o repúdio à perda de status das classes médias tradicionais e a rearticulação das elites empresariais e financeiras em torno de um projeto subordinado à lógica neoliberal e alinhado as grandes potências.

Pela primeira vez, desde o término da ditadura, a direita procurou se colocar no cenário político, mobilizando rancorosos eleitores, embora sem uma candidatura presidencial própria. Apesar do senador Aécio Neves já ter declarado que não assumirá o lugar da direita, buscando calibrar seu partido como uma oposição democrática ao governo eleito, seus apoiadores clamaram imediatamente pelo impeachment da presidente eleita, em um momento em que denúncias de corrupção na Petrobrás ocupam os noticiários.

O acirramento das contradições mostra que o país está sofrendo uma lenta, porém importante re-estratificação territorial e social, com a perda de dinamismo econômico da maior região industrializada do país, o Estado de São Paulo, e com a emergência de polos dinâmicos de desenvolvimento em outras regiões do país. Além disso, mesmo em tempos de crise econômica, o governo assegurou a manutenção do emprego e do valor do salário mínimo que, juntos com as transferências monetárias, provocaram o aumento do consumo da população mais pobre.

Essas dinâmicas impulsionadas pelos governos do PT foram ainda associadas à forte intervenção econômica do banco de investimentos, BNDES, no financiamento público das empresas, e dos bancos comerciais – Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal – nos financiamentos do crédito habitacional e popular. A criação do banco dos BRICS consolidaia essa disposição de uso de fundos públicos para alcançar maior autonomia em relação ao capital financeiro nacional e internacional. O modelo de partilha da exploração do petróleo e outras medidas que asseguram a defesa da soberania na exploração de riquezas minerais tem sido vistas como sinais de um nacional desenvolvimentismo retrógrado pelos críticos do governo e por grupos de interesse fora do país.

Finalmente, a ideia de fortalecer a participação popular através de um decreto que criava a Política Nacional de Participação Popular enviada pela presidente ao Congresso, foi vista pelos setores conservadores do Legislativo e da mídia como uma ameaça ao poder dos parlamentares, sendo derrubada imediatamente depois das eleições.

A participação eleitoral sempre foi vista como essencial à democracia, mas o que vimos foi uma polarização violenta e nada democrática, saudosa dos tempos da ditadura militar. Por outro lado, a participação popular foi o mecanismo mais inovador entronizado pela Constituição Federal de 1988 e desenvolvida desde então em um conjunto de instituições e processos que asseguram o controle social e a gestão compartilhada entre governo e sociedade civil. No entanto, esses mecanismos seguem restritos às áreas sociais, ambientais e culturais, além de aplicarem-se também ao planejamento urbano.

A suposição que embasa a democracia participativa é de que ela é necessária à inclusão social, além de propiciar o reconhecimento e diálogo entre os diferentes, igualados em instâncias políticas com regras de convivência definidas.

O que se pergunta nesse momento é que tão democrática é a participação dos eleitores em ataques aos adversários em redes sociais virtuais, sem que um espaço público de diálogo e respeito mútuo seja estabelecido.

Por outro lado, também se deve perguntar qual o(s) significado(s) da participação popular, que pode variar desde mecanismo de construção de consensos e coesão social até a mera legitimação do controle e da coerção estatal na gestão da população nos territórios marginais e periféricos das cidades.

Sobre esse assunto ver o artigo Metonímias da participação pacificada em Scripta Nova, numero 20 de Janeiro de 2015.

A Selva Urbanizada

Maria Lucia Pires Menezes*

Na Amazônia brasileira 70% de sua população vivem nas cidades. As cidades mais antigas que surgiram no período colonial, em sua totalidade se localizam na beira-rio das áreas inundáveis da planície e que vem resistindo as diversas fases de expansão e retração de sua economia extrativa. Tais cidades em sua maioria não organizaram uma área de influencia espacialmente continua, mas sim estruturada em função dos fluxos de mercadorias, força de trabalho e serviços que circulam através, fundamentalmente, da rede hidrográfica.

O FATO HISTÓRICO COMPROVÁVEL É QUE NA AMAZÔNIA MUITO DE SUAS CIDADES CHEGARAM PRIMEIRO QUE A OCUPAÇÃO RURAL.

As cidades que surgiram mais recentemente à beira das estradas têm sua origem na expansão da fronteira agrícola a partir da construção da rodovia Belém Brasília e dos incentivos fiscais e financeiros proporcionados pelos governos militares, desde os anos 1960. Apesar de seu crescimento em número e em população em todo o seu conjunto urbano, na Amazônia brasileira as cidades não configuram uma rede de cidades diretamente organizada a partir da hierarquia urbana nacional.

Como se explica este aparente paradoxo? Este é o desafio da análise profunda que a geógrafa brasileira Bertha Becker propõem no livro A Urbe Amazônida. A Floresta e a Cidade. É exatamente na Geo-história que estão as razões desta geografia tão peculiar e que para os não especialistas e conhecedores da região é preciso sublinhar que o mapa das cidades, a rede urbana e as centralidades não podem ser entendidas sem que se leve em consideração a morfologia da extensa planície coberta por densa floresta equatorial.

Na verdade, sua história moderna se inicia após o século XVI e até o surto da borracha, na segunda metade do século XIX, ali disputaram domínio as principais potências hegemônicas coloniais e grandes empresas comerciais estrangeiras sobre um imenso território que transborda os domínios brasileiros e conformam os limites internacionais do Brasil com Guiana Francesa, Guiana, Suriname, Venezuela, Colômbia, Peru e Bolívia.

CIDADES QUE SURGIRAM EM POSIÇOES ESTRATÉGICAS PARA A PRODUÇÃO EXTRATIVISTA NA SELVA

Este processo determinou que muitas de suas cidades fossem localizadas em posições estratégicas para a logística de armazenagem e comércio do extrativismo e instaladas em confluências de rios. São cidades que surgiram não como núcleos para a expansão das atividades agrárias e sua necessidade de concentração da produção, mas para explorar a produção extrativista do seu entorno e garantir a soberania do Brasil sobre estes territórios.

Com o declínio da borracha o que estas cidades vivem é um novo período onde esta ausente o fator trabalho novo, aquele que desencadeia uma economia local capaz de promover uma cadeia de atividades que junto à herança da economia local pode levar ao desenvolvimento de novas atividades e ao crescente dinamismo urbano. A pesquisa e o conhecimento acumulado levaram a autora a conceituar como “surtos urbanos históricos” o processo que transitoriamente incrementam os núcleos como ponto nodal de fluxos, em função da presença de agentes exógenos e das demandas advindas de relações externas. É sob esta sucessão de surtos econômicos, sem o desenrolar de um processo de crescimento da economia local que as cidades vão paulatinamente entrando em declínio econômico e social.

As razões atrelam-se ao fato que, mesmo em épocas de grande ritmo da atividade econômica, a organização político-administrativa não foi capaz de assegurar serviços sociais, incentivo à economia local e uma infra-estrutura básica e urbana às localidades.

A partir dos anos 70, um novo surto se impõe sobre a Amazônia meridional e de transição para o cerrado, quando a malha rodoviária possibilitou a acessibilidade à expansão do agronegócio. Neste contexto, ocorreu um controle mais efetivo dos agentes urbanos de base financeira e tecnológica, amparados no trabalho temporário e na crescente mecanização da atividade agrária. Surgem novas cidades, crescem antigas cidades. A migração de trabalhadores ocupa as periferias urbanas, redesenhando uma nova geografia que configura e reafirma a expressão cunhada pela autora sobre a Amazônia brasileira como a “selva urbanizada”.

AGENDA PARA UMA EFETIVA POLÍTICA DE DINAMIZAÇÃO DAS CIDADES AMAZÔNICAS

O livro de Bertha Becker é fruto de uma extensa vida de pesquisa sobre a realidade tão peculiar e desafiadora da Amazônia brasileira e que deixa como legado uma agenda para uma efetiva política de desenvolvimento das cidades amazônicas. Para consolidar a inserção das cidades numa rede urbana articulada ao espaço brasileiro e que promova o crescimento local e o bem-estar de seus habitantes propõem que se deva considerar: a inovação industrial e o valor agregado aos produtos locais tendo como objetivo contribuir para a autonomia das cidades; a apropriação do legado dos surtos e a dinamização da economia local; a realização de uma geografia histórica das cidades com o intuito de produzir políticas sociais e econômicas respeitando a configuração étnica, social e cultural de cada cidade; serviços ecossistêmicos que favoreçam a produção, a substituição de importação e assim conduzir o desenvolvimento socioeconômico orientado para a conservação ambiental.

Para mayor infor­ma­ción

Becker, Bertha – A Urbe Amazônida. A Floresta e a Cidade. Rio de Janeiro: Garamond, 2013.

* Professora e pesquisadora da Universidade Federal de Juiz de Fora

Urbanização militar e as origens da habitação social no Brasil

Nelson da Nobrega Fernandes

Pela importância que tem os espaços apropriados, construídos e controlados nas cidades pelas forças armadas, em War and the city i o geógrafo Gregory Ashworth reivindicou o reconhecimento de uma “geografia urbana militar”, do mesmo modo que se admite a geografia urbana social, econômica, política, etc. Esta reivindicação e a bibliografia do livro, essencialmente anglo-saxônica e em que há poucas referencias de obras voltadas especificamente ao assunto anteriores a 1980, sugerem que só então a produção do espaço urbano castrense começou a chamar atenção dos geógrafos, mesmo em países em que, diferente de iberoamerica, não havia censura ou profundo rechaço entre civis e militares.

Em Espanha, conforme observou Rafael Mas Hernandez, a partir desta época os Professores Francisco Quirós Linares, em Oviedo, e Horacio Capel, em Barcelona, formaram duas escolas de estudos urbanos com destacadas pesquisas sobre os espaço militares e o desenvolvimento das cidades. Ao justificar seu interesse sobre o assunto – que serve para o nosso caso – Hernandez expõe que resolveu enfrentá-lo depois de que em seus estudos mais amplos sobre Madrid e outras cidades ter se deparado repetidamente com os espaços e as ações do estamento militar. Contudo, ele não reivindicou uma geografia urbana militar.

No Brasil, especialmente quanto à cidade moderna e contemporânea, os espaços urbanos militares ainda são terra incógnita para a geografia urbana. Simplesmente desconhecemos processos e morfologias urbanas que foram ou continuam sendo influenciados ou determinados pelas necessidades e vontade das corporações militares e seus membros, mesmo quando se trata de problemas estritamente civis de grande importância, como no caso da primeira intervenção do governo federal na habitação social durante a presidência (eleita) do Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914). As duas vilas proletárias então construídas, Orsina da Fonseca (1913), no subúrbio industrial da Gávea, e, sobretudo, Marechal Hermes (1914), em pequena parcela dos vastíssimos terrenos da Vila Militar (1909), no subúrbio ferroviário a oeste da cidade, são marcos indiscutíveis da história da habitação social brasileira que, entretanto, até pouco tempo foram ignoradas, mal dimensionadas ou deliberadamente evitadas. O profundo rechaço aos assuntos militares pode começar a explicar porque arquitetos modernistas e especialistas da questão da habitação silenciaram sobre as vilas construídas pelo Marechal Hermes. Isto permite avaliar o quanto deve estar bloqueada nossa imaginação às possibilidades de considerarmos em nossos mapas urbanos os espaços estritamente militares que integram a geografia e a história da cidade.

(…) o programa que ele desenvolveu em Marechal Hermes antecipa em 30 anos muitas das inovações que os arquitetos modernistas aplicaram nos conjuntos previdenciários construídos nos anos 1940 e 1950 (…)”

Passado um século exato, as 72 casas da Vila Proletária Orsina da Fonseca, situadas em um dos bairros mais valorizados da Zona Sul carioca, foram completamente descaracterizadas e em parte substituídas por edifícios residenciais. Só permaneceram conservadas em sua forma e função as duas escolas primárias. O contrário se passa na Vila Proletária Marechal Hermes, que se mantém notavelmente preservada, graças principalmente às restrições à edificação impostas pela operação dos aviões da Base Aérea dos Afonsos. Ou seja, trata-se de um espaço construído e em parte regulado há um século pelos militares.

As vilas foram desenhadas por Palmiro Pulcherio, engenheiro militar que já havia trabalhado nas obras da Vila Militar, esta última construída pelas ordens do mesmo Marechal Hermes, quando Ministro da Guerra (1906 – 1908). Na Gávea, as dimensões dos terrenos não permitiram a Pulcherio desenvolver por completo sua concepção do que deveria constituir um bairro proletário, embora tenha garantido a construção de duas escolas. Na Vila Proletária Marechal Hermes não houve esses limites, o militar pode projetá-la desde a estação ferroviária ao teatro, em 738 prédios destinados a diferentes tipos de famílias e a solteiros, distribuídos em um plano ortogonal de largas ruas e boulevards arborizados, centralizado em uma grande praça circular contornada por quatro escolas. Foi previsto ainda mercado, assistência médica, biblioteca, escola profissionalizante, bombeiros, polícia, correios e telégrafos, creche, jardim de infância, maternidade e reservatório de água. Mas no plano não houve espaço para a igreja, provavelmente em função do anticlericalismo e do positivismo arraigados nos meios militares.

FOTO: Vila Proletária Marechal Hermes (1935). No centro da foto, o edifício modernista do cinema inaugurado em 1934.

A atuação do engenheiro militar na história da habitação social brasileira é importante não só por ter sido pioneira, mas também por que o programa que ele desenvolveu em Marechal Hermes antecipa em 30 anos muitas das inovações que os arquitetos modernistas aplicaram nos conjuntos previdenciários construídos nos anos 1940 e 1950, quando associaram os prédios residenciais com transportes de massa, comércio, equipamentos coletivos, sociais, educativos e de lazer para que fossem formados verdadeiros bairros capazes de produzir um modo de vida urbano e de transformar imigrantes rurais e os rudes da cidade em homens e mulheres modernos.

A Vila Proletária Marechal Hermes foi inaugurada em primeiro de maio de 1914 pelo presidente da república, com mais de cinquenta por cento dos prédios por concluir. O tenente Pulcherio foi misteriosamente assassinado em 1915. Até 1934 as obras na vila ficaram paralisadas, quando foram retomadas por Getúlio Vargas, com a construção de um cinema em um prédio modernista monumental. Para a continuidade das obras, neste ano organizou-se um concurso com júri formado por três grandes arquitetos modernistas – Saturnino de Brito, Celso Kely e Affonso Ready – que desaprovaram explicitamente as propostas que davam continuidade ao projeto de Pulcherio. Nos vinte anos seguintes a vila foi sendo concluída com a construção de blocos residenciais com tipologias modernistas e, como previsto pelo engenheiro militar, com outros edifícios para o hospital, a maternidade e o teatro, este último inaugurado em 1954, com projeto de Ready e paisagismo de Burle Marx.

Maiores informações em:

Oliveira, Alfredo César Tavares de; Fernandes, Nelson da Nobrega. Marechal Hermes e as (des)conhecidas origens da habitação social no Brasil: o paradoxo da vitrine não-vista, in: Marcio de Piñon de Oliveira; Nelson da Nobrega Fernandes (orgs.), 150 anos de subúrbio carioca, Rio de Janeiro, Lamparina; Faperj; EdUFF, 2010

Nelson da Nobrega Fernandes é professor da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro

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Etiquetas – Geografia urbana militar, espacios militares, vivienda social, Brasil, Rio de Janeiro, Marechal Hermes

Ashworth, G. J. War and the city.London, Routledge, 1991