La reforma del Water Front de Rio de Janeiro

Verena Andreatta *

El pasado 6 de septiembre fue inaugurada la reforma de la plaza Mauá en el entorno del viejo puerto de Rio de Janeiro. La plaza está situada en el extremo oriental de la zona objeto del proyecto de remodelación del frente portuario de la ciudad, denominado Porto Maravilha, y su reforma tiene un valor simbólico, además de estratégico, en el desarrollo de esa operación.

Con esa plaza se inició la operación de apertura de la avenida Rio Branco en la que el alcalde Pereira Pasos depositó casi todo el impulso de su modernización del Centro de la ciudad en el periodo republicano. En 1910 recibió una estatua dedicada al Barón de Mauá, el gran empresario del imperio muerto precisamente el año de advenimiento de la República (1889), y adoptó su nombre.

El pier construido en su frente fue terminal de pasajeros y cruceros durante mucho tiempo, y la plaza albergó una estación terminal de autobuses. Quizás por ese motivo, acabó por constituir un espacio caótico, atiborrado de vehículos de todo tipo. La construcción en 1962 de un viaducto por el frente urbano, separando el puerto de la ciudad, contribuyó a su deterioro.

La operación Porto Maravillha trajo como consecuencia el ansiado derribo de ese viaducto (o Perimetral do Porto) lo que parecía indispensable para incorporar el frente portuario a la ciudad. Hoy en día en el espacio recuperado por ese derribo se está construyendo un paseo ajardinado, dedicado al arquitecto y ex-alcalde de la ciudad Luiz Paulo Conde, de 3 km de extensión por el que trascurrirá un tranvía (VLT) que unirá el nuevo frente marítimo con el aeropuerto Santos Dumont, la bahía de Gloria y la Terminal de barcas de la Plaza XV; es decir con gran parte de los lugares más usados del Centro de la ciudad.

La primera parte de la reforma de la Plaza Mauá consistió en la construcción del nuevo Museo de Arte (MAR, que integró los edificios remodelados de la antigua estación de autobuses, de una sede de la policía y de un palacio de João VI. El bello proyecto de los arquitectos Bernades y Jacobsen fue inaugurado el 1 de marzo del 2013 y se muestra en la fotografía. Se sitúa en frente del edificio A noite del arquitecto Gire, que construido en 1929, fue record de altura en América Latina (102 m) e inicio la larga serie de rascacielos que puebla hoy el Centro de la ciudad.

Museo de Arte de Rio de Janeiro (MAR), arquitectos Jacobsen y Bernandes
Museo de Arte de Rio de Janeiro (MAR), arquitectos Jacobsen y Bernandes

Como se apuntó al inicio, el 6 de Septiembre se inauguró, tras cuatro años de obras, la remodelación de la plaza, que ha urbanizado 25.000 m2, y que remata en un atrevido edificio de Santiago Calatrava, construido en el pier Mauá y que albergará el «Museo do Amanha». Cercano a él, se está remodelando un viejo almacén portuario para albergar un nuevo Acuario de la ciudad.

Nueva urbanización de la Plaza Mauá, con el Museo do Amnahá sobre el pier
Nueva urbanización de la Plaza Mauá, con el Museo do Amnahá sobre el pier

Son pues, todas ellas, buenas noticias, que auguran un cierto éxito de la tan controvertida operación Porto Maravilha. Controvertida por su modo de gestión, en el que se ha cedido gran parte de las decisiones al conjunto de empresas privadas concesionarias de la denominada Operação Urbana Consorciada, y porque el Plan Director de la operación no contiene ninguna definición volumétrica del conjunto a edificar, utilizándose como instrumento urbanístico tan solo una adjudicación de edificabilidad (excesiva, a juicio de los expertos) a cada lote de terreno. Los primeros edificios, en construcción, muestran ya los desastrosos efectos de esa política.

Para mejor comprender las semejanzas, y sobre todo las diferencias, con otras operaciones urbanas de recuperación de frentes portuarios, se recomienda la lectura del libro de mi autoría que cito, en el que se contienen datos técnicos y de gestión de seis operaciones de la misma índole, ya casi concluidas (Boston, Hong Kong; Ciudad del Cabo, Barcelona, Rotterdam y Buenos Aires). A los comentarios allá expresados me remito.

*Verena Andreatta el arquitecta urbanísta

Para mayor información : ANDEATTA, Verena «Porto Maravilha e o Rio de janeiro + seis casos de sucesso de revitalização portuária» Rio de Janeiro. Ed. Casa da palavra, 2010. (ISBN 978-85-7734-168-9)

FRASES

LA RECUPERACION DE LA PLAZA Y PIER MAUA DE RIO DE JANEIRO, ÉXITO DE LA OPERACIÓN PORTO MARAVILHA

LÁSTIMA QUE AL ALEJARSE DE LA PLAZA EL CAOS COMIENCE A SUSTITUIR AL ORDEN EN LA NUEVA FACHADA MARÍTIMA

Urbanização militar e as origens da habitação social no Brasil

Nelson da Nobrega Fernandes

Pela importância que tem os espaços apropriados, construídos e controlados nas cidades pelas forças armadas, em War and the city i o geógrafo Gregory Ashworth reivindicou o reconhecimento de uma “geografia urbana militar”, do mesmo modo que se admite a geografia urbana social, econômica, política, etc. Esta reivindicação e a bibliografia do livro, essencialmente anglo-saxônica e em que há poucas referencias de obras voltadas especificamente ao assunto anteriores a 1980, sugerem que só então a produção do espaço urbano castrense começou a chamar atenção dos geógrafos, mesmo em países em que, diferente de iberoamerica, não havia censura ou profundo rechaço entre civis e militares.

Em Espanha, conforme observou Rafael Mas Hernandez, a partir desta época os Professores Francisco Quirós Linares, em Oviedo, e Horacio Capel, em Barcelona, formaram duas escolas de estudos urbanos com destacadas pesquisas sobre os espaço militares e o desenvolvimento das cidades. Ao justificar seu interesse sobre o assunto – que serve para o nosso caso – Hernandez expõe que resolveu enfrentá-lo depois de que em seus estudos mais amplos sobre Madrid e outras cidades ter se deparado repetidamente com os espaços e as ações do estamento militar. Contudo, ele não reivindicou uma geografia urbana militar.

No Brasil, especialmente quanto à cidade moderna e contemporânea, os espaços urbanos militares ainda são terra incógnita para a geografia urbana. Simplesmente desconhecemos processos e morfologias urbanas que foram ou continuam sendo influenciados ou determinados pelas necessidades e vontade das corporações militares e seus membros, mesmo quando se trata de problemas estritamente civis de grande importância, como no caso da primeira intervenção do governo federal na habitação social durante a presidência (eleita) do Marechal Hermes da Fonseca (1910-1914). As duas vilas proletárias então construídas, Orsina da Fonseca (1913), no subúrbio industrial da Gávea, e, sobretudo, Marechal Hermes (1914), em pequena parcela dos vastíssimos terrenos da Vila Militar (1909), no subúrbio ferroviário a oeste da cidade, são marcos indiscutíveis da história da habitação social brasileira que, entretanto, até pouco tempo foram ignoradas, mal dimensionadas ou deliberadamente evitadas. O profundo rechaço aos assuntos militares pode começar a explicar porque arquitetos modernistas e especialistas da questão da habitação silenciaram sobre as vilas construídas pelo Marechal Hermes. Isto permite avaliar o quanto deve estar bloqueada nossa imaginação às possibilidades de considerarmos em nossos mapas urbanos os espaços estritamente militares que integram a geografia e a história da cidade.

(…) o programa que ele desenvolveu em Marechal Hermes antecipa em 30 anos muitas das inovações que os arquitetos modernistas aplicaram nos conjuntos previdenciários construídos nos anos 1940 e 1950 (…)”

Passado um século exato, as 72 casas da Vila Proletária Orsina da Fonseca, situadas em um dos bairros mais valorizados da Zona Sul carioca, foram completamente descaracterizadas e em parte substituídas por edifícios residenciais. Só permaneceram conservadas em sua forma e função as duas escolas primárias. O contrário se passa na Vila Proletária Marechal Hermes, que se mantém notavelmente preservada, graças principalmente às restrições à edificação impostas pela operação dos aviões da Base Aérea dos Afonsos. Ou seja, trata-se de um espaço construído e em parte regulado há um século pelos militares.

As vilas foram desenhadas por Palmiro Pulcherio, engenheiro militar que já havia trabalhado nas obras da Vila Militar, esta última construída pelas ordens do mesmo Marechal Hermes, quando Ministro da Guerra (1906 – 1908). Na Gávea, as dimensões dos terrenos não permitiram a Pulcherio desenvolver por completo sua concepção do que deveria constituir um bairro proletário, embora tenha garantido a construção de duas escolas. Na Vila Proletária Marechal Hermes não houve esses limites, o militar pode projetá-la desde a estação ferroviária ao teatro, em 738 prédios destinados a diferentes tipos de famílias e a solteiros, distribuídos em um plano ortogonal de largas ruas e boulevards arborizados, centralizado em uma grande praça circular contornada por quatro escolas. Foi previsto ainda mercado, assistência médica, biblioteca, escola profissionalizante, bombeiros, polícia, correios e telégrafos, creche, jardim de infância, maternidade e reservatório de água. Mas no plano não houve espaço para a igreja, provavelmente em função do anticlericalismo e do positivismo arraigados nos meios militares.

FOTO: Vila Proletária Marechal Hermes (1935). No centro da foto, o edifício modernista do cinema inaugurado em 1934.

A atuação do engenheiro militar na história da habitação social brasileira é importante não só por ter sido pioneira, mas também por que o programa que ele desenvolveu em Marechal Hermes antecipa em 30 anos muitas das inovações que os arquitetos modernistas aplicaram nos conjuntos previdenciários construídos nos anos 1940 e 1950, quando associaram os prédios residenciais com transportes de massa, comércio, equipamentos coletivos, sociais, educativos e de lazer para que fossem formados verdadeiros bairros capazes de produzir um modo de vida urbano e de transformar imigrantes rurais e os rudes da cidade em homens e mulheres modernos.

A Vila Proletária Marechal Hermes foi inaugurada em primeiro de maio de 1914 pelo presidente da república, com mais de cinquenta por cento dos prédios por concluir. O tenente Pulcherio foi misteriosamente assassinado em 1915. Até 1934 as obras na vila ficaram paralisadas, quando foram retomadas por Getúlio Vargas, com a construção de um cinema em um prédio modernista monumental. Para a continuidade das obras, neste ano organizou-se um concurso com júri formado por três grandes arquitetos modernistas – Saturnino de Brito, Celso Kely e Affonso Ready – que desaprovaram explicitamente as propostas que davam continuidade ao projeto de Pulcherio. Nos vinte anos seguintes a vila foi sendo concluída com a construção de blocos residenciais com tipologias modernistas e, como previsto pelo engenheiro militar, com outros edifícios para o hospital, a maternidade e o teatro, este último inaugurado em 1954, com projeto de Ready e paisagismo de Burle Marx.

Maiores informações em:

Oliveira, Alfredo César Tavares de; Fernandes, Nelson da Nobrega. Marechal Hermes e as (des)conhecidas origens da habitação social no Brasil: o paradoxo da vitrine não-vista, in: Marcio de Piñon de Oliveira; Nelson da Nobrega Fernandes (orgs.), 150 anos de subúrbio carioca, Rio de Janeiro, Lamparina; Faperj; EdUFF, 2010

Nelson da Nobrega Fernandes é professor da Universidade Federal Fluminense, Rio de Janeiro

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Etiquetas – Geografia urbana militar, espacios militares, vivienda social, Brasil, Rio de Janeiro, Marechal Hermes

Ashworth, G. J. War and the city.London, Routledge, 1991

AS MOBILIZAÇÕES QUE VARRERAM O MUNDO, O BRASIL, O RIO DE JANEIRO…

por Alvaro Ferreira

Não há como passar ao largo das inúmeras mobilizações que varreram o mundo e mais especificamente o Brasil e o Rio de Janeiro neste início do século XXI. Occupy, nos Estados Unidos, Londres, São Paulo, Rio de Janeiro; os Indignados, na Espanha; a Geração à Rasca, em Portugal; a Primavera Árabe; e, desde junho de 2013, uma sequência de mobilizações tomou as ruas do Brasil, sendo que na cidade do Rio de Janeiro, determinada manifestação chegou a reunir mais de 500 mil pessoas.

A população foi para a rua e isso deixou os governantes, a mídia, os empresários e a própria academia desnorteados. Estávamos acostumados a dizer que o povo não se indignava com nada, que a juventude era acomodada e individualista; de repente, milhares de pessoas se aglomeraram nas ruas pressionando os governos por mudanças.

Alguns tentaram qualificar as mobilizações como mais uma festa, desprovida de consciência política. Os mais sonhadores chegaram a imaginar uma grande revolução. Acreditamos que não se trata de uma coisa ou de outra, ao menos no que se refere à maneira como se via e definia os antigos movimentos sociais. Todavia, se pôs em questão as relações de poder, o autoritarismo, a prepotência dos governantes, o pouco caso com a população no que se refere aos serviços a ela prestados. Bilhões gastos em obras e projetos que não serão utilizados pela maior parte da população, descaso com a saúde pública, com a educação e com a qualidade dos transportes públicos.

Ver a importância da dimensão do corpo na rua, ocupando o espaço – agora verdadeiramente público – que é de todos, foi emocionante! Agora parece que entendemos que as redes sociais podem ajudar, mas a verdadeira mobilização obriga-nos a ocupar a rua… a rua como lugar do encontro… como lugar do debate… como lugar da transformação.

Os atos de quebra-quebra ocorridos são parte do processo. A transformação passa pela mobilização da população, que não está satisfeita com as instituições públicas, com os partidos políticos, com os sindicatos e as associações. Lembrou-nos o filósofo Henri Lefebvre, pouco depois das manifestações ocorridas na França em maio de 1968, que a revolução urbana não tem como pressuposto ações violentas, mas não as exclui; “como separar antecipadamente o que se pode alcançar pela ação violenta e o que se pode produzir por uma ação racional? Não seria próprio da violência desencadear-se? E próprio do pensamento reduzir a violência ao mínimo, começando por destruir os grilhões no pensamento?”

(foto, títol: MANIFESTAÇÃO REÚNE MAIS DE 500.000 PESSOAS NO RIO DE JANEIRO)

Tomar consciência é o primeiro passo; o impossível está se tornando possível.

Quando os manifestantes se colocam tão fortemente contra os partidos políticos, isso é sinal de que não se sentem representados por eles, e, portanto, é preciso que os partidos se repensem.

O oportunismo sempre fez parte da sociedade, isso não é nenhuma novidade. Os saques que têm acontecido são exemplos de oportunismo. O quebra-quebra é algo que acaba fazendo parte do processo… Ruim?! Bom?! Exagero?! É parte do processo.

Os ataques à Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro e à Prefeitura têm um caráter específico: «um prédio é um símbolo, assim como destruí-lo também é», dizia o personagem “V” (dos quadrinhos), cuja máscara é usada por grande número de manifestantes.

Agora estão culpando parte da população pela manifestação violenta, pelo quebra-quebra, mas quem começou tudo isso? Foram nossos dirigentes, políticos, empresários oportunistas (que financiam campanhas esperando «colher» os lucros depois), os sindicatos, associações etc. Ao desrespeitar a população com seu pouco caso, com o oportunismo e a corrupção generalizada, com a falta de ideologia partidária, com seus altos salários, com o descolamento do cidadão, eles acabaram empurrando a população para as ruas. Com as manifestações pacíficas vieram também o quebra-quebra e os ditos oportunistas com saques e destruição. Mas eles também foram empurrados para a rua.

Mas estamos falando da apropriação do espaço, da valorização do uso do espaço público, do estar juntos na luta, mesmo com diferenças, com diferentes visões de mundo. É a maturidade intelectual que permite compreender que somos seres políticos e isso independe da política institucionalizada.

Onde há poder, há também resistências. É no lugar que optamos por adaptar-nos ao que é imposto ou procuramos subverter o jogo.

«O povo não deve temer seu governo, é o governo que deve temer seu povo!”

Acreditamos ser necessário escapar da tendência a hierarquizar as mobilizações. Há uma grande produção bibliográfica acerca dos movimentos sociais, contudo é preciso entender essas mobilizações e este momento. Caso contrário, os conceitos e teorias que utilizamos podem servir como cegantes e não como iluminadores.

Precisamos valorizar os contextos da ação, vínculos sociais, vivências e experiências. Não podemos renegar o pequeno, o fugaz, que pode ser de grande importância por constituir-se na única resistência possível. Talvez seja o momento de valorizarmos mais as divergências que o consenso, principalmente um consenso cada vez mais produzido artificialmente, cada vez mais consenso midiático.

Isso tudo nos coloca aberturas e possibilidades; e sabemos que «não há certezas, apenas oportunidades». Mesmo a autogestão não prescinde do Estado e de legisladores. É preciso trabalhar pelo desvanecimento do Estado através da cada vez maior participação. «O povo não deve temer seu governo, é o governo que deve temer seu povo!” (fragmentos da fala do personagem “V” dos quadrinhos).

Trata-se do desejo de construir outra cidade, em que o direito à cidade se realize em plenitude, em que não apenas se possa sobreviver, mas viver… viver plenamente!

Para maiores informações:

FERREIRA, Alvaro. A cidade no século XXI: segregação e banalização do espaço. Rio de Janeiro: Consequencia, 2011. 296p.

FERREIRA, Alvaro, RUA, João, MARAFON, Glaucio, SILVA, Augusto César Pinheiro da. (Orgs.) Metropolização do espaço: gestão territorial e relações urbano-rurais. Rio de Janeiro: Consequencia, 2013. 528p.

Alvaro Ferreira é professor do Departamento de Geografia da Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro e da Universidade do Estado do Rio de Janeiro