Conflitos recentes pela água no Brasil: em busca da justiça socioambiental

Wagner Costa Ribeiro*

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  Ainda que abundante em água, quando se analisam os dados de disponibilidade hídrica per capita, observa-se no Brasil um aumento dos conflitos por água nos últimos anos. Entre as causas podem-se apontar tanto a da distribuição dos recursos hídricos e da população, quanto, e principalmente, o uso da água para a produção agrícola e industrial.

  Estima-se que no Brasil ocorra cerca de 12% da água doce disponível no mundo. Porém, cerca de 70% desse volume encontra-se na Amazônia brasileira. Trata-se de uma área de ocorrência de rios caudalosos e perenes, associados à elevada pluviosidade do clima equatorial. Entretanto, nessa porção do país concentra-se cerca de 21 milhões de habitantes, pouco mais de 10% do total da população total. Mas é lá que estão as principais hidrelétricas que geram energia para todo o país, graças à integração do sistema de produção e distribuição de energia.

  Durante os últimos anos verificou-se um período de alternância de precipitações. Chuvas frequentes deixaram de ocorrer em locais onde elas chegavam regularmente. Áreas com índices pluviométricos em geral mais baixos atingiram períodos ainda mais longos de estiagem. Como consequência observou-se uma maior pressão social pelo uso da água, o que evidencia uma diversificada tipologia de conflitos pela água.

  Como o país adotou no passado a hidreletricidade como fonte central para produzir energia elétrica, a variação pluviométrica levou a um uso mais intenso de reservatórios de água para gerar energia. Além disso, utilizaram-se usinas termelétricas para suprir a demanda energética. Porém, foi na produção agrícola que os conflitos ficaram mais evidentes.

  Dados da Comissão Pastoral da Terra apontam que em 2016 foram registrados 172 conflitos por água no país. O gráfico a seguir indica um aumento expressivo nos últimos 10 anos.

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  A disputa pelo uso da água é evidente em muitas Unidades da Federação, com destaque tanto para aquelas que enfrentam secas regulares, como na Bahia, quanto nas que as chuvas são frequentes, mas com oscilação nos últimos anos, como no Pará. A disputa instala-se pela expansão da agricultura intensiva no uso da água, baseada na produção de monocultura de soja, cana-de-açúcar e até mesmo de pinus e eucalipto para produção de papel ou de madeira para construção civil ou de móveis, que chegou ao cerrado brasileira na década de 1970, mas que ganhou impulso nos últimos anos. Outra fonte de conflito é a barragem de rios para a construção de hidrelétricas, o que afeta a organização da vida de inúmeras comunidades. Contaminação de rios por rejeitos da atividade de mineração, como a que ocorreu em Minas Gerais em 2015, também estão entre as causas.

  Esse conjunto de problemas gerou movimentos populares destacados.

  Em setembro de 2014 a população do município paulista de Itu, que tem cerca de 160 mil habitantes, invadiu a Câmara de Vereadores para protestar contra um racionamento de água que já durava 8 meses, para parte da população, que ficou vários dias sem água. Como forma de luta, surgiram em alguns bairros incêndios que tinham como meta atrair carros de bombeiros para que a população se apropriasse da água. Também houve casos de saques a carros de abastecimento de água enviados pela empresa responsável pelo abastecimento de água no município, que desde 2007 fora privatizado. Itu parou, segundo registros da imprensa. Barricadas e invasões de órgãos públicos foram as estratégias da população para chamar atenção para o problema do desabastecimento de água.

  Já em 2017 ocorreu novo evento que ganhou ampla repercussão na imprensa do país. No mês de novembro, a população de Correntina, município localizado na Bahia com pouco mais de 33 mil habitantes, barrou a retirada de água para irrigação em fazendas locais. Esse fato foi noticiado de modo alarmista pela grande imprensa, que chegou afirmar tratar-se de um ato terrorista.

  Dias depois, a população voltou às ruas do município. Dessa vez, em número muito maior, para apoiar a ação do grupo anterior. Milhares de pessoas saíram de suas casas para mostrar que o uso da água é muito desigual. Enquanto apenas uma das fazendas tem autorização para retirar 106 milhões de litros por dia de água do rio Arrojado, que deságua no rio Corrente, que por sua vez chega ao rio São Francisco, a população consume cerca de 3 milhões de água por dia!

  Entre os manifestantes, indignados, observavam-se cartazes com os dizeres “Não somos terroristas”, “Ninguém vive sem água” e “O rio é nosso”. Ou seja, foi uma resposta tanto à imprensa apressada em desqualificar o movimento de justiça socioambiental quanto pela retomada das condições naturais dos cursos de água. O documentário Insurgência, dirigido por André Monteiro (disponível em https://youtu.be/iFTosuHoiw0), registrou esse movimento.

  A expansão da atividade produtiva no cerrado brasileiro, que distribui água para as principais bacias hidrográficas do país, está ocorrendo sem maiores cuidados ambientais. O desmatamento e uso intensivo da água estão entre as causas de diminuição da oferta hídrica e da redução da vazão de rios importantes, como é o caso do São Francisco. Esses aspectos, associados à alteração no padrão de chuvas, pode acarretar em sérias consequências sociais e ambientais, inviabilizando a organização social de inúmeras famílias que vivem em pequenas cidades ou em comunidades às margens dos rios.

  É fundamental estabelecer um novo pacto político para o uso das águas no Brasil. Nesse processo é necessário ajustar as outorgas de retirada de água no país. Não é mais possível priorizar apenas um uso da água, principalmente quando ele está associado a empresas transnacionais que exploram o território da população brasileira, exaurindo seus solos e recursos hídricos. A comoção social identitária expressa em Correntina apresenta uma nova marca no movimento pelo uso equitativo da água no Brasil. Ela combina justiça no acesso à água e a garantia de uso pelas gerações atuais e futuras.

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Para mais informação: RIBEIRO, W. C.. Conflitos e cooperação pela água na América Latina. São Paulo: PPGH/Annablume, 2013. 350p .

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* Wagner Costa Ribeiro é professor do Departamento de Geografia da Universidade de São Paulo – Brasil e pesquisador do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico.

¿Qué pasa tras la modernización de regadíos? Un balance en la Comunidad Valenciana (España)

Carles Sanchis Ibor

Marta García Mollá

Los regadíos valencianos han afrontado en las tres últimas décadas un cambio tecnológico sin precedentes. Probablemente desde la época islámica no hemos asistido a ningún proceso de innovación tan significativo por sus implicaciones en las prácticas de riego. En cuanto a su impacto territorial, la difusión de las tecnologías de riego localizado es sólo comparable al que tuvieron, a lo largo del siglo XX, la generalización de las bombas a motor. Este proceso de cambio tecnológico arrancó tímidamente durante la década de 1980 impulsado por la iniciativa privada en los regadíos más dinámicos de la región. Pero el proceso expansivo se aceleró a partir de 1994, merced al compromiso financiero de las administraciones públicas. Estas han hecho posible que más de la mitad de las tierras regadas de la región cuenten hoy día con sistemas de riego presurizado.

El compromiso público no ha contado con un análisis preliminar que permitiera a las administraciones –y también a los usuarios– ser más selectivos en sus inversiones y controlar la eficiencia del esfuerzo financiero en términos de cumplimiento de objetivos. Buena parte del apoyo financiero se prestó sin la existencia de suficientes estudios previos o auditorías que valoraran, para cada caso, los ahorros estimados en consumo de agua y energía, por lo que junto a experiencias muy exitosas podemos encontrar otros casos donde la rentabilidad de la inversión es cuanto menos dudosa. Hoy día no conocemos si existieron criterios técnicos que priorizaron las subvenciones para las inversiones más necesarias y, en cualquier caso, si los hubo, deberían haberse hecho públicos. Este hecho es particularmente relevante cuando, como hemos visto en nuestras investigaciones, han existido importantes diferencias en las subvenciones otorgadas a diferentes entidades de riego, que deberían haber estado ligadas a criterios objetivos de beneficio o ahorro esperado. También hay que lamentar que la administración no fuera más allá de una política clientelar de concesión de ayudas públicas y no tratara de fomentar los procesos de fusión de entidades y racionalización de las redes de riego, que hubiera redundado en mayores niveles de ahorro y en una considerable reducción de los costes de gestión.

Por lo que respecta al ahorro de recursos hídricos, y a escala de comunidades de regantes, existe una cierta unanimidad en los casos de estudio que hemos considerado, y en muchos casos se han alcanzado ahorros en alta importantes, como los registrados en la citricultura de la provincia de Castellón. La orientación productiva de los regadíos valencianos facilita que la implantación del riego localizado no genere los incrementos en el consumo observados en otros ámbitos por un posterior cambio de cultivo. Otra cosa es el destino que con posterioridad tengan los recursos ahorrados y que finalmente se generen ahorros a escala de cuenca, ya que la incorporación del riego localizado también genera una reducción o desaparición de los sobrantes o retornos de riego que frecuentemente alimentan otros sistemas de riego o ecosistemas adyacentes. Por el momento, la única mejora observada es la reducción de las extracciones de aguas subterráneas, que en algunos casos ha redundado en una recuperación de los acuíferos.

El ahorro energético es por el contrario, muy limitado, cuando no se ha generado un incremento de los costes del riego. Por lo general se observa un aumento de los costes energéticos que sólo en algunas entidades abastecidas por aguas subterráneas ha podido ser compensado por las reducciones de las extracciones de agua. Sin embargo, en zonas de aguas superficiales los resultados suelen ser bastante negativos, por lo que parece desaconsejable mantener estas políticas de promoción sobre los regadíos tradicionales, salvo en casos excepcionales en los que, como sucede en la Acequia Real del Júcar (Valencia), la presurización se consigue por gravedad.

Son precisamente los regadíos tradicionales de aguas superficiales donde hoy día se conserva la mayor proporción de tierras con riego por gravedad, y sobre las que la administración planea actuar en los próximos años. Se trata de comunidades en las que muy recientemente se viene observando un proceso de abandono de explotaciones y una falta de relevo generacional, que puede lastrar la amortización de las inversiones. Además existen valores patrimoniales y ambientales en estos sistemas que deben ser preservados. Por ello, en el futuro, más que una política indiscriminada de promoción del cambio tecnológico, se hace necesaria la aplicación de medidas previas de evaluación y análisis de los sistemas de riego, destinadas tanto a determinar las capacidades de ahorro del recurso, como las afecciones sobre el consumo energético, los ecosistemas adyacentes y la viabilidad económica de las inversiones.

Para saber más:

Sanchis-Ibor, C., García-Mollá, M., Avellà-Reus, L. 2016. Las políticas de implantación del riego localizado. Efectos en las entidades de riego de la Comunidad Valenciana, Boletín de la Asociación de Geógrafos Españoles, 72: 9-36.

http://www.age-geografia.es/ojs/index.php/bage/article/viewFile/2330/2194

Carles Sanchis Ibor y Marta García Mollá son investigadores del Centro Valenciano de Estudios del Riego de la Universitat Politècnica de València

Lavaderos tradicionales de la Granada del XIX y el uso público del agua

Daniel Jesús Quesada Morales*

Hasta la generalización de la red de distribución de aguas a las casas el agua proveniente de manantiales, arroyos y ríos era la usada para el abastecimiento de la población. Este suministro acuoso se llevaba a cabo en espacios públicos comunitarios que a lo largo del siglo XIX, se van a acondicionar para prestar un mejor servicio. Junto con las fuentes y abrevaderos, base del aprovisionamiento humano y animal, se obraron espacios específicos para el lavado de la ropa. Desde finales del siglo XIX, se asentaron en España las nociones de servicio y obra pública, al mismo tiempo que se declaró al suministro de agua servicio con carácter público. La definitiva implantación de lavaderos en Granada durante ese siglo, como infraestructuras de índole pública y de servicio a la comunidad, y su vinculación a las teorías higienistas europeas, condicionaron su diseño, construcción y mantenimiento.

La red de suministro hidráulico en la Granada del Ochocientos

El suministro de agua en la Granada decimonónica se realizaba mediante las acequias de Aynadamar y Gorda. Ambas construcciones, como sistemas tradicionales hidráulicos, abogaban por el uso y aprovechamiento racional del agua, asegurando el abastecimiento regular al mayor número de usuarios en un amplio abanico de aprovechamientos. Estas infraestructuras, nacidas con clara vocación urbana, se proyectaron para el suministro de la población de los diferentes barrios de la ciudad, a través de sus aljibes y su bien trazada red de acequias y azacayas. Este es el carácter público del agua, concebida como un bien de servicio comunitario en todas sus vertientes, que ha de llegar a todos, y por tanto, su reparto y consumo se rige por estar presente en todos los aspectos de la vida: dar de beber a los ciudadanos a través de la red arterial de cisternas y tinajas, en el riego de huertas y jardines, en el abastecimiento de casas, fincas, conventos e instituciones, así como en el suministro de pilares, baños, estanques, albercas, abrevaderos y lavaderos públicos.

Lavaderos públicos en el entramado urbano granadino

Con el aumento de la población y la consecuente extensión del recinto urbano, los diferentes gobiernos municipales se vieron en la obligación de instalar lavaderos públicos que vinieran a atender las necesidades del vecindario. Los lavaderos en la Granada del siglo XIX se situaron en la zona baja de la ciudad, coincidiendo con los lugares más habitados y con mayor índice de población e incremento demográfico. Es el caso del de las Tablas, uno de los más populosos y concurridos de la ciudad, junto con el de Fuente Nueva, y el lavadero de la Cruz, unido a la parroquia de los Santos Justo y Pastor. Perteneciente a la parroquia del Sagrario se encontraba el lavadero de San Agustín, mientras que el de Zafra se correspondía con la parroquia de San Andrés.

Lavadero público y abrevadero de Fuente Nueva, h. 1890-1900. Autoría desconocida. Fuente: Archivo Histórico Municipal del Ayuntamiento de Granada. Fondo fotográfico. Signatura: 00.015.14.

Así mismo, la toponimia del callejero granadino nos aporta información de lavaderos desaparecidos que han dejado su huella en los espacios de la ciudad marcando el paisaje urbano. El designar con un nomenclátor alusivo a estas construcciones algunas calles de la ciudad nos da idea de la fuerza que tendrían en la ciudadanía como puntos referenciales dentro del caserío granadino al nominar algunos espacios de su trama urbana con nombres de lavaderos. De este modo en el plano actual de Granada figuran las calles del Lavadero de Méndez (por la Cuesta de la Alhacaba), de las Tablas (desde la calle del Gran Capitán a la calle Tablas), de la Cruz (entre la calle del Boquerón y la calle de San Juan de Dios), de San Agustín (desde la placeta de este nombre a la calle San Jerónimo), de Santa Inés (que sube desde la Carrera del Darro), de Zafra (desde la Placeta del Azúcar a la calle de Navarrete), de las Manchegas (desde la calle del Correo Viejo a la Cuesta de Marañas), y del Lavadero, además de la placeta o plaza del mismo nombre. Esta numerosa presencia denota la abundancia de este tipo de servicios públicos de limpieza e higiene en la Granada de aquel tiempo. El hecho de situar los principales lavaderos en las zonas más bajas de la ciudad, aparte de coincidir con los mayores núcleos de población en ese momento, se debe a que en el Sacromonte, Albayzín, Alixares, la Churra y Mauror, barrios de la Granada alta, las mujeres utilizaban para lavar los aljibes y grifos.

Lavadero de Méndez,h. 1905. Albayzín. Granada. Arturo Cerdá y Rico. Fuente: Asociación Cultural Arturo Cerdá y Rico. Cabra del Santo Cristo (Jaén).
Lavadero de Méndez,h. 1905. Albayzín. Granada. Arturo Cerdá y Rico. Fuente: Asociación Cultural Arturo Cerdá y Rico. Cabra del Santo Cristo (Jaén).

De este nutrido número de lavaderos, que se dispersaban por el urbanismo de Granada, sólo ha llegado hasta nuestros días el ubicado en la llamada Puerta del Sol. Además de estas construcciones específicas para lavar también recibía este uso algunas zonas de los ríos Darro y Genil. En la actualidad la tipología edilicia del lavadero de la Puerta del Sol, nos permite contextualizar arquitectónicamente, el resto de construcciones de este tipo, pues compartían un diseño similar. Común era el empleo de la estructura adintelada, con tejado de teja morisca, sostenida por columnas de piedra de Sierra Elvira.

Lavadero público de la Puerta del Sol, h. 1900. Francisco Román Fernández. Fuente: Archivo Histórico Provincial de Granada. Fondo fotográfico / Signatura: Po-0046.
Lavadero público de la Puerta del Sol, h. 1900. Francisco Román Fernández. Fuente: Archivo Histórico Provincial de Granada. Fondo fotográfico / Signatura: Po-0046.

Consideraciones finales

El lavadero de la Puerta del Sol, hoy elemento singular del patrimonio arquitectónico de Granada, es el titular de una tradición histórica y cultural, que quedó reflejada en el empleo de los materiales utilizados para su construcción, arquitectura que bebe de la tradición vernácula secular. Destaca el indudable valor etnográfico e histórico-artístico de estos lavaderos tradicionales que formaron parte fundamental en las tareas domésticas del pasado reciente granadino. Su examen, y otorgarles su justo valor, permite un enriquecimiento en el conocimiento de nuestro acervo cultural, y tener al mismo tiempo, mejores elementos de análisis, a lo hora de investigar en el pasado de nuestras raíces.

Para mayor información

QUESADA MORALES, Daniel. Arquitectura e Higiene. Lavaderos públicos y salubridad en el siglo XIX: el caso de Granada. Biblio3W. Revista Bibliográfica de Geografía y Ciencias Sociales. [En línea]. Barcelona: Universidad de Barcelona, 25 de julio de 2017, vol. XXII, nº 1.206. <http://www.ub.es/geocrit/b3w-1206.pdf>. [ISSN 1138-9796].

*Daniel Jesús Quesada Morales es doctorando en el Departamento de Historia del Arte de la Universidad de Granada.

La desalinización, ¿la gran solución a la escasez de agua?

Álvaro Francisco Morote Seguido*

El litoral mediterráneo español ha sufrido importantes transformaciones territoriales durante las últimas décadas debido a la fuerte expansión de las funciones residenciales, turísticas y de servicios. El Plan Hidrológico Nacional (2001) y, en mayor medida, el Programa A.G.U.A. (2004) apostaron por la desalinización de agua marina a gran escala para garantizar demandas urbanas, turísticas e incluso agrícolas. Sin embargo, la paralización de los planes urbanísticos provocada por la crisis financiera (2007-08), unida a la tendencia de reducción del consumo de agua potable desde mediados de la década del 2000, evidencian una capacidad de producción de agua desalinizada muy superior a las demandas actuales.

Ello ha repercutido en un exceso de oferta de agua desalinizada, plantas sobredimensionadas y con capacidades de producción muy superiores a las que se precisarían incluso para hacer frente a situaciones de intensa sequía. Es interesante revisar la situación actual de la desalinización de agua marina y salobre continental en las regiones de Murcia y Valencia, hacer un balance de sus ventajas e inconvenientes, y plantear una discusión en torno al papel que puede desempeñar el agua desalinizada como recurso estratégico y de futuro para garantizar demandas urbano-turísticas y agrícolas, principalmente durante situaciones de sequía.

El sector de negocio que se generó hace una década no ha cumplido las expectativas iniciales y, lejos de ello, la paralización de la actividad inmobiliaria y la escasa demanda de agua desalinizada, por su elevado coste, han abocado a la ruina financiera a la mayoría de las grandes plantas desalinizadoras construidas. La ejecución del Programa A.G.U.A. no ha sido ajena a la polémica e incluso a las sospechas de corrupción en la concesión de los proyectos de obra.

Figura 1

Principales plantas desalinizadoras en las regiones de Murcia y Valencia
Figura 1
Principales plantas desalinizadoras en las regiones de Murcia y Valencia

Fuente: Morote et al. (2017).

El Gobierno del Estado en manos del Partido Popular desarrolló durante la legislatura 2011-2015 una política del agua de bajo perfil, y sin alusión alguna a la recuperación de los trasvases previstos en el Plan Hidrológico Nacional (2001). Más allá incluso, ha asumido por completo la herencia de los dos Gobiernos anteriores del Partido Socialista (2004-2011) en materia hídrica, al finalizar y poner en funcionamiento todas las desalinizadoras del Programa A.G.U.A. Por otro lado, en 2014, y sin apenas modificaciones, el actual Gobierno aprobó los planes hidrológicos (2009-2015) de las demarcaciones hidrográficas del Júcar, Segura y Tajo que el anterior Gobierno no finalizó dentro de los plazos establecidos en la Directiva Marco del Agua 2000/60/CE.

Estos nuevos planes, que ya han sido revisados para adaptarse al ciclo de planificación 2015-2021, incluyen normas de enorme repercusión en las regiones de Valencia y Murcia que reducen el funcionamiento de los Trasvases Júcar-Vinalopó y Tajo-Segura, cuyas menores transferencias ya están siendo suplidas con agua desalinizada. De hecho, el año 2016 empezó con el cierre temporal del Trasvase del Tajo-Segura lo que hace prever que las aportaciones de estas transferencias puedan ser suplidas íntegramente por agua desalinizada.

Cabe hacer notar que la opción de subvencionar el agua desalinizada suscita un amplio respaldo político. No obstante, la opción de lograr un “precio social” para el agua desalinizada, tiene difícil encaje en el principio de recuperación de costes que propugna la Directiva Marco del Agua 2000/60/CE. También se ha barajado la posibilidad de subvencionar la electricidad que consumen las desalinizadoras o bien, recurrir a la generación de energía solar fotovoltaica, que podría reducir el coste de producción en un 40%. Otra de las opciones que también se ha planteado en algunos foros, por parte de altos funcionarios del Ministerio de Agricultura, Alimentación y Medio Ambiente, consistiría en la integración de las desalinizadoras en un sistema global de gestión hídrica.

La desalinización formaría parte de un “mix hídrico” constituido por recursos superficiales, subterráneos y aguas residuales regeneradas, que se consumiría y asignaría a los diferentes usos atendiendo a criterios de disponibilidad, calidad, coste y garantía de suministro. El coste de la desalinización se repercutiría sobre el conjunto de dicho “mix hídrico”, lo que podría elevar las tarifas de un 10 a un 20%, pero el agua desalinizada constituiría el factor de garantía de suministro de todo el sistema.

En las regiones de Murcia y Valencia la desalinización ha elevado de forma muy notable la garantía de suministro en los abastecimientos de agua potable, sobre todo en las áreas de uso más cercanas a la costa, donde la implantación de nuevos desarrollos urbanos precisará recursos de agua adicionales y una diversificación de las fuentes de suministro como estrategia básica de gestión de sequías. La utilización de la desalinización ha significado en gran medida el fin de la escasez “física” de recursos en el litoral mediterráneo. Su uso permitiría generar recursos en abundancia.

Sin embargo, diversos autores han empezado a referirse a un nuevo concepto, el de “escasez socio-económica”, que vendría definido por la dificultad de acceder a esos nuevos recursos por parte de los usuarios. La desalinización podría convertirse en una estrategia de “mala adaptación” para hacer frente a los efectos del Cambio Climático.

Resulta oportuno cuestionar la idea de que la desalinización a gran escala constituye una solución tecnológica definitiva para resolver los problemas de escasez de agua del siglo XXI en las regiones del litoral mediterráneo español, no al menos hasta que se incremente la eficiencia energética y se reduzcan los altos costes de producción.

Para mayor información:

Morote Seguido, Álvaro Francisco, Rico Amorós, Antonio Manuel y Moltó Mantero, Enrique. La producción de agua desalinizada en las regiones de Murcia y Valencia: Balance de un recurso alternativo con luces y sombras”. Documents d’Anàlisi Geogràfica, 2017, vol. 63/2, p. 473-502. http://dx.doi.org/10.5565/rev/dag.353.

*Álvaro Francisco Morote Seguido, Doctor en Dirección y Planificación del Turismo e investigador en el Instituto Interuniversitario de Geografía de la Universidad de Alicante (España).

La burbuja inmobiliaria y su repercusión en el consumo de agua en la costa de Alicante

Álvaro Francisco Morote Seguido*

Los núcleos urbanos del mundo en general y del Mediterráneo en particular registran en estos momentos los mayores aumentos en el consumo de agua. Ello tiene que ver con el rápido crecimiento de la población de las ciudades en las últimas décadas y por el desarrollo de actividades de cariz fuertemente urbanas como el turismo. A la hora de abordar las relaciones entre urbanización y consumo de agua, un aspecto clave a tener en cuenta es que no existe uno sino muchos procesos de urbanización y que cada uno de ellos comporta una demanda y un comportamiento diferente en relación al agua. Además, el proceso urbanizador también tiene una historia social detrás y los patrones de consumo de agua tanto en las zonas de alta densidad como en las zonas de baja densidad se pueden ver modificados por otras variables como las características socio-económicas, culturales etc. El conocimiento sobre los hábitos de consumo de la población y de los factores que los influencian resulta fundamental para planificar futuras actuaciones relacionadas con el recurso, incluyendo el uso de recursos alternativos y las campañas de concienciación en casos de penuria hídrica. Por otra parte y ante escenarios climáticos de impacto potencial sobre los recursos hídricos, conviene conocer que posibles medidas tomarían los ciudadanos. Así como en gran parte se desconocen los hábitos de consumo con precisión, también se desconocen cómo podrían cambiar estos hábitos ante las incertidumbres climáticas e hidrológicas del futuro. Este conocimiento se vería facilitado en gran parte si se dispusiese de perfiles de usuarios de agua definidos a partir de un conjunto de variables territoriales, económicas y demográficas.

Son diferentes las variables que inciden en el incremento de las demandas de agua. Se analizan los cambios territoriales y sociales acontecidos en la costa de Alicante y su influencia en el consumo de agua. Para ello ha sido necesario tener en cuenta una serie de elementos como son: a) cambios en los usos del suelo, b) crecimiento urbano y variaciones en los modelos y/o tipologías urbanas, c) consumo de agua, y d) hábitos de consumo de agua y factores que lo determinan.

En relación con el incremento de la superficie urbana, según los resultados obtenidos del análisis cartográfico, en 1956 (situación de partida), esta superficie sumaba la cifra de 16.890.458 m2 en toda la costa y destacando con el 88,33% los núcleos urbanos tradicionales. Sin embargo, en 2013, el incremento ha sido espectacular (338.925.408 m2 de superficie urbana-residencial), pero en este caso, la tipología que destaca sobre el resto es la superficie urbana de baja densidad (chalés) que representa el 57,30%. Estas cifras a escala local muestran aún más el espectacular aumento de esta tipología y del proceso de urbanización. En poblaciones como Xàvia o Dénia dicha tipología supera el 90%.

Figura 1. Vista de urbanizaciones en el municipio de Calpe (costa norte de Alicante)
Figura 1. Vista de urbanizaciones en el municipio de Calpe (costa norte de Alicante)

También cabe indicar que se han comprobado diferencias significativas entre la costa norte y sur de Alicante (tanto en el predominio de tipologías urbanas como en su proceso de implantación). En este sentido, en la costa sur, la tipología de adosados representa el 24,89% mientras que en el norte no supera el 7%. Además, cabe indicar que la tipología de chalés, el tamaño de la parcela es notablemente inferior en la costa meridional con tamaños alrededor de 400 m2 frente a los 800-1.000 m2 del norte. Todo ello, obedece por cuestiones económicas como ya constató el profesor Fernando Vera en su Tesis Doctoral (1987), donde en la costa sur, y principalmente, a partir del núcleo turístico-residencial de Torrevieja se buscó una tipología urbana que permitiera la llegada de compradores extranjeros de clase media. Por lo tanto, se adaptó la construcción de estas viviendas, tanto en forma de chalé como de adosado, con unas parcelas más pequeñas que permitió abaratar el coste del hogar y la construcción de más viviendas por metro cuadrado.

Todo ello, si se relaciona con el consumo de agua, el gasto en esta tipología urbana es mas “sostenible” ya que los espacios ajardinados son más pequeños e incluso como se ha constatado, las piscinas se adaptan al espacio reducido del exterior de la vivienda. También cabe indicar que en vinculación con la tipología del jardín, se ha comprobado un cambio de percepción por parte de la población, ya que se ha reducido y sustituido el llamado “jardín atlántico” (donde domina el césped) por un jardín mediterráneo donde las especies vegetales dominantes son las especies autóctonas y por lo tanto, menos consumidoras de agua. En este sentido, el césped tan sólo representa el 15% del total de la superficie ajardinada. Cifra que ha ido disminuyendo desde años atrás. El incremento del precio del agua, la escasez de recursos hídricos y recurrentes episodios de sequías, y un cambio de percepción de la población a favor del ahorro de agua, son los principales motivos que han repercutido en este cambio, y por lo tanto, se ha dejado notar en una contracción de los consumos domésticos en esta tipología.

Se establecen relaciones entre modelos de ocupación del territorio (tipologías urbanas) (con finalidades residenciales, turísticas o una combinación de ambas) y el consumo para usos urbano-turísticos, con particular atención a determinar las características que influyen en éste, determinando si la expansión de los usos urbano-residenciales acaecida en los últimos años, unido a la difusión de modelos más extensivos. Cabría suponer un incremento de los consumos hídricos y que esta evolución se viera condicionada por otras variables como pueden ser factores de renta, sociales, sociológicos, etc. En este sentido, como se ha podido comprobar y corroborar con datos empíricos proporcionados por las empresas suministradoras de agua, el incremento del consumo de agua para usos urbanos turísticos coincidiendo con el último boom inmobiliario no se cumple, ya que éste ha descendido de manera general desde mediados de la década del 2000, aunque en algunas localidades ya se produce desde principios de este periodo. El descenso de éste se debe a distintos factores, todos ellos importantes e interrelacionados, a saber: una mayor concienciación ambiental, aumento del precio de la factura del agua, electrodomésticos más eficientes en el uso del agua, la mejora de la red de distribución en baja por parte de las empresas suministradoras de agua potable (que ha provocado menores perdidas por fugas y averías), la utilización de aguas depuradas y en última instancia, la actual crisis económica que ha agravado aún más si cabe el descenso del consumo de agua.

Lo que se puede aprender del caso de la costa de Alicante, es que el ámbito urbano constituye un terreno muy importante para examinar las características del consumo de agua por parte de la población y los factores que influencian estas características. Un mejor conocimiento de todo ello resulta imprescindible para diseñar políticas de planificación y gestión de recursos hídricos que adopten el paradigma de las sostenibilidad, pero que también tengan en cuenta los contextos socio-demográficos, territoriales y tecnológicos que influyen en los hábitos de consumo del recurso.

Para mayor información:

MOROTE SEGUIDO, Álvaro Francisco (2015): Transformaciones territoriales e intensificación de la demanda de agua urbano-turística en la provincia de Alicante. Tesis Doctoral. Universidad de Alicante. Instituto Interuniversitario de Geografía.

*Álvaro Francisco Morote Seguido es Doctor en Geografía por la Universidad de Alicante (España) y ejerce su actividad investigadora en el Instituto Interuniversitario de Geografía de dicha universidad.