O fazer geográfico e em campo: as visitas de estudo como possibilidade de investigação e ensino

Silvia A. de Sousa Fernandesi

Silvia A. de Sousa Fernandesi
Silvia A. de Sousa Fernandesi

As visitas de estudo são práticas pedagógicas que compreendem o estudo das paisagens locais, com o intuito de investigar, reconhecer e identificar as contradições da produção do espaço geográfico. Metodologicamente, as visitas de estudo implicam na realização de um estudo prévio da área a ser visitada e o planejamento das ações, atividades de observação e investigação durante e posterior ao campo, a análise de dados, elaboração de sínteses e relatórios, apresentados na forma de textos, fotografias, vídeos, exposições, portfólios. Seja na educação básica ou na educação superior, as saídas a campo levam a reconhecer as paisagens de natureza física e social, produto de relações culturais, possibilitando o exercício da reflexão sobre que foi observado. Como recurso didático possibilitam reunir teoria e prática, refletir sobre as paisagens e localidades observadas, sistematizar conhecimentos e formular conceitos.

Contribuindo com o debate sobre as visitas de estudo como metodologia de ensino nas Ciências Sociais e na Geografia, o Geoforo (Foro Iberoamericano de Educação, Geografia e Sociedade), propôs a reflexão sobre as saídas de campo e a educação geográfica no Foro 21, iniciado em 2015. As contribuições destacaram as visitas de estudo como estratégia didática que possibilita identificar elementos e fatores explicativos da paisagem e do espaço, refletir sobre as condições sociais e o espaço vivido. Outras intervenções destacam os aspectos normativos da escola e da organização das visitas de estudo, que necessitam da atenção dos professores e estudantes no momento do planejamento das ações em campo.

O foro sobre as visitas de estudo partiu da análise de experiência realizada em Valência, em curso de formação de professores que teve por objetivo a observação do patrimônio histórico e estudo de itinerários culturais. Experiências como essa possibilitam a observação do patrimônio histórico e ambiental, a compreensão do lugar e a valorização das comunidades locais. Noutras contribuições o Foro 21 sistematizou as intervenções vindas desde Espanha, Brasil, Chile, Argentina, Colômbia, entre outros países.

Figura 1: Visita de estudo - Cooperativa Cooplenor, Assentamento Reunidas/Promissão/SP/Brasil
Figura 1: Visita de estudo – Cooperativa Cooplenor, Assentamento Reunidas/Promissão/SP/Brasil

Figura 2: Visita de estudo: Roteiro cultural – Quarteirão Paulista, Ribeirão Preto/SP/Brasil
Figura 2: Visita de estudo: Roteiro cultural – Quarteirão Paulista, Ribeirão Preto/SP/Brasil

Certamente, os roteiros culturais atravessam territórios diversos e constituem a paisagem e a identidade cultural de uma comunidade. Ao entrar em contato com essas realidades, os estudantes colocam em prática as temáticas discutidas em classe e conseguem realizar sínteses mais complexas de novos conhecimentos e conceitos. Realizando, dessa maneira, a aquisição de competências que os acompanharão em suas práticas docentes e cotidianas.

O debate sobre as práticas educativas e visitas de estudo corrobora, desse modo, a concepção de que o professor deve ser protagonista do processo de ensino na realização de um currículo que efetivamente contribua para a aprendizagem significativa dos temas e conteúdos geográficos, desenvolva competências de leitura da paisagem e perceba as contradições inerentes à produção do espaço. Desse modo, contribui-se para um saber escolar que problematiza o lugar e realiza uma análise multiescalar, ou seja, a articulação entre os problemas locais e as questões globais a partir do conhecimento acadêmico e a ação cidadã.

Para mais informações:

FERNANDES, Silvia A. Sousa; MONTEAGUDO, Diego G.; SOUTO GONZALEZ, X. M. (2016). Educación Geográfica y las salidas de campo como estrategia didáctica: un estudio comparativo desde el Geoforo Iberoamericano. Biblio 3w (Barcelona), v. XXI, num. 1155- p. 1-22.

i? Professora de Geografia na Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho – FFC/UNESP/Marília-SP.