Ficamos chocados com a notícia do falecimento do amigo e colega Sylvio Bandeira após grave intervenção cirúrgica e suas consequências.
Sylvio Carlos Bandeira de Mello e Silva nasceu no Rio de Janeiro em 1940. Formou-se em Geografia em 1962 pela Universidade Católica de Campinas. Na França, onde conheceu Christine, concluiu o doutorado em Geografia em Toulouse em 1969, sob a orientação de Bernard Kayser, com a tese L´organisation régionale du Recôncavo da Bahia / Brésil. Em 1971 concluiu a Especialização em Desenvolvimento Econômico oferecido pela CEPAL. Realizou seu estágio de pós-doutorado na Universitat Marburg, Alemanha, em 1990.
Veio para Salvador para participar do Laboratório criado por Milton Santos e Jean Tricart. Em 1963 começou a dar aulas na Universidade Federal da Bahia – UFBA. Em 1975, através de concurso, foi o primeiro Professor Titular do Departamento de Geografia. De 1975 a 1979 foi Diretor do Instituto de Geociências e de 1979 a 1984 ocupou o cargo de Assessor do Reitor para assuntos de Pesquisa e Pós-Graduação. Aposentou-se da UFBA em 1992, mas continuou colaborando no Programa de Pós-Graduação em Geografia até o seu falecimento.
Continuou sua carreira, paralelamente, na Universidade de Salvador, de 2000 a 2005, passando posteriormente para o Programa em Planejamento Territorial da Universidade Católica de Salvador – UCSAL, desde 2003, e era coordenador do programa desde 2009.
Foi professor colaborador da Pós-Graduação em Sergipe desde 1983 e professor visitante das universidades de Rio Claro, Maringá, Londrina, Santiago de Compostela e Barcelona. Era membro do conselho editorial das revistas Geonordeste; Geografia; RDE e Geotextos.
Foi pesquisador em produtividade de pesquisa do CNPq, alcançando o nível mais elevado 1-A, e deve ser destacado que presidiu a Comissão de Acompanhamento dos Programas de Pós-Graduação em Geografia da CAPES (1996 a 1999) e continuou como assessor ad-hoc da CAPES e do CNPq. Seu projeto de pesquisa atual era intitulado “Metropolização e interiorização turística no Brasil”.
A sua produção acadêmica é imensa: ele publicou vinte e dois livros, oito dos quais como organizador e vinte em conjunto. Podem ser destacados Estudos sobre Globalização, Território e Bahia, escrito em conjunto com Christine, em 2003 e Desequilíbrio e Desigualdades Regionais no Brasil e nos estados brasileiros, em 2008, com Christine e A. Coelho. Publicou cinquenta e três capítulos de livros até 2016, assim como um elevado total de noventa e seis artigos em revistas nacionais e estrangeiras até o mesmo ano. Apresentou também cento e sessenta trabalhos em eventos desde 1966.
Participou de oito bancas de concursos para professor titular, uma para livre docente e seis para professores em Geografia. Participou também do elevado número de cento e vinte e cinco bancas de mestrado no período de 1991 a 2016 e de trinta e seis bancas de doutorado, no Brasil e no exterior, entre 1997-2016. Talvez a maior contribuição de Sylvio tenha a sido a de orientar gerações de geógrafos: quarenta e três dissertações de mestrado (1991-2013); dezessete teses de doutorado (1997 a 2016), e oito em andamento; e ainda vinte e um orientações na graduação.
Ele me informou do concurso para titular na UFBA e foi membro da minha banca junto com Milton Santos. Desde quando comecei a trabalhar na UFBA como colega, fomos companheiros durante trinta anos, em três instituições universitárias. A impossibilidade de visitá-lo no hospital, por também estar doente, me deixou a lembrança do colega e amigo vivo, sempre sorridente, sempre brincalhão, sempre interessado pelos livros. Quando o casal se mudou para um apartamento, Sylvio doou setecentos livros para a biblioteca da UCSAL, o que mostra outra das suas paixões.
Os depoimentos dos amigos podem ajudar a concluir essa homenagem: Joaquim Oliveira fez um belo discurso no seu velório, contando a chegada deles na Bahia e as viagens pela Europa. Quando escrevi avisando aos amigos geógrafos mais distantes, colhi belas mensagens como estas que muito me emocionaram:
“Uma pessoa com raras qualidades […]: educado, conciliador, um verdadeiro cavalheiro” (Marcelo); “era tão alegre […] sempre passava a imagem de uma jovialidade” (Carminha); “ele deixou um vasto legado através não só do que produziu mas dos tantos estudantes que ajudou a formar” (Haesbaert); “conheço desde […] 1962. Tinha grande apreço por ele” (Lobato); “demonstrava tanta vitalidade” (Bitoun); “tinha muito apreço por Sylvio” (Leila); “amigo solícito, sorridente e agradável” (Borzacchiello); “pude apreciar personalmente la calidad humana y científica que tenía, y el aprecio del que gozaba de manera general” (Capel), ou seja, toda uma comunidade de geógrafos conhecia e apreciava Sylvio Bandeira, que nos deixa uma enorme lacuna.
Sylvio e Christine tiveram dois filhos, Mauricio e André, que foram habitar no longínquo estado de Roraima. Do primeiro, Mauricio e sua esposa, eles tiveram a alegria de ter três netos, dois dos quais gêmeos.
Salvador, 11 de março de 2017
Pedro de Almeida Vasconcelos