Uma capital regional e a nova lógica de sua morfologia urbana.

A morfologia urbana de Juiz de Fora, cidade média e centro regional localizada no estado de Minas Gerais e distante aproximadamente 180 quilômetros do Rio de Janeiro, tem expressado uma nova configuração espacial. Trata-se de um processo em curso desde o início dos anos 1980 e que revela um novo arranjo espacial no território da cidade e mais imediatamente em sua área de influência direta e que segundo dados do IBGE – Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística é o domínio da cidade sobre as mesorregiões da Zona da Mata e Campo das Vertentes em Minas Gerais e as mesorregiões Centro Fluminense e Norte Fluminense no estado do Rio de Janeiro.

Este novo arranjo espacial estrutura uma nova morfologia urbana de maior complexidade. E esta complexidade está diretamente atrelada aos novos investimentos e equipamentos instalados no espaço urbano que revela as diretrizes de uma lógica capitalista contemporânea, cujos fundamentos estão baseados em novas tecnologias, o incremento às políticas de financiamento e financeirização do sistema e, principalmente, sob o domínio de uma nova logística de negócios que tem na malha viária e na localização de Juiz de Fora um forte elemento ordenador e impulsionador.

O arco rodoviário da BR 040, estrada que liga Rio de Janeiro a Brasília, sobre Juiz de Fora já a partir do início dos anos 80 redireciona e atrai a fronteira de expansão da cidade para suas cercanias gerando um espaço de expansão de investimentos e equipamentos tanto no setor de negócios e logística quanto no setor do mercado imobiliário residencial. Este processo atualmente se expressa numa morfologia urbana onde espaços multifuncionais convivem ainda com usos rurais e de segunda residência, mas também indústrias, novos bairros, ocupações de moradias precarizadas, conjuntamente com condomínios residenciais voltados para classe média alta.

https://ssl.panoramio.com/photo/58916520
https://ssl.panoramio.com/photo/58916520

Outro equipamento não localizado no município, mas de fundamental importância para os fluxos de mercadorias, trabalhadores e serviços é o Aeroporto Regional da Zona da Mata na cidade vizinha de Goianá. As obras terminaram em 2005, mas o primeiro vôo de passageiros só aconteceu em 2011. Há certo descompasso entre a economia urbana e regional, entre a malha rodoviária e a demanda pelo uso aeroviário. Este descompasso se evidencia nos efeitos sobre a organização do espaço urbano muito mais intensos do que as demandas regionais sobre o transporte aéreo. É preciso considerar o domínio sobre a região das instalações aeroportuárias de Rio de Janeiro e Belo Horizonte, ambas as metrópoles com as quais Juiz de Fora se conecta preferencialmente pelo modo rodoviário e ferroviário. O aeroporto conecta-se a Juiz de Fora pela estrada MG 353 e através de ônibus entre a rodoviária local e o aeroporto.

Mais precisamente no entorno do arco da rodovia BR 040, para onde se expande as funções sob o comando da cidade de Juiz de Fora e seus novos negócios, localiza-se o Park Sul condomínio de empresas e logística de transportes e o condomínio residencial Alphaville voltado para a classe média alta da cidade e região de sua influência. Tendo sido pioneiro em sua instalação as margens da estrada o Park Sul atualmente não atende a demanda do setor de transporte e logística sob influência da malha rodoferroviária regional. O que significa a implantação de vários outros centros de logística na beira da estrada e em especial na região noroeste da cidade, mas ainda em direção ao eixo rodoviário e seu entrecruzamento com a ferrovia.

http://www.logcp.com.br/Empreendimento/84/log-juiz-de-fora-mg
http://www.logcp.com.br/Empreendimento/84/log-juiz-de-fora-mg

Os múltiplos investimentos no eixo noroeste somaram 750 milhões de reais na última década. Entre os equipamentos mais expressivos deste eixo estão a Estação Aduaneira Interior – Porto Seco administrado pela empresa Multiterminais, MRV logística, seis grandes transportadores e redes de mercados atacadistas, além de algumas multinacionais de setores variados.

Além dos equipamentos supracitados, há investimentos em equipamentos de abrangência regional nos dois eixos, especialmente equipamentos de saúde, educação, lazer, hotelaria e centros de negócios. Fato que reafirma a importância regional de Juiz de Fora e a relação entre novo arranjo espacial e demandas regionais.

Ao contrário do que acontece com o setor de armazéns e logística que se amplia a cada ano, o condomínio Alphaville, no eixo sudoeste, ainda não registra nenhuma família instalada em seu interior. O modelo Alphaville está presente em 21 estados do Brasil. Sua concepção privilegia a moradia mono familiar cuja característica de condomínio fechado, baseado no modelo do subúrbio americano impõe um modelo privatista e segregador espacial na sua relação com o entorno imediato e o resto da cidade.

MARIA LUCIA PIRES MENEZES. Professora do Departamento de Geociências da Universidade Federal de Juiz de Fora e do Programa de Pós-Graduação em Geografia da UFJF. Coordenadora do Laboratório de Territorialidades Urbano-Regionais – LATUR/UFJF.

Para maiores informações:

MENEZES, Maria Lucia Pires – Aeroporto Regional e Business Park: Logística e Negócios na
Geografia Urbana e Regional de Juiz de Fora, Brasil. IN: http://www.ub.edu/geocrit/sn/sn-170-23.htm

GERALDO, Watuse Mirian de Jesus – A Reestruturação Urbana Pós- Fordista de Juiz de Fora. IN: http://www.ufjf.br/latur/producao-cientifica/dissertacoes/